Título: Dólar oscila ao sabor de queda-de-braço
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2005, Finanças, p. C2
Intenso tiroteio especulativo agitou ontem os mercados internacionais. Sem novas justificativas relevantes, fundos agressivos derrubaram o dólar e provocaram fortes altas do petróleo e dos juros americanos de longo prazo. O euro foi cotado acima de US$ 1,34, o barril do petróleo ameaçou superar, em Nova York, o recorde histórico de US$ 55,67 de outubro do ano passado e as taxas dos títulos do Tesouro americano de 10 anos dispararam de 4,38% para 4,52%. As taxas dos treasuries saltam porque os investidores vendem esses papéis e buscam lucratividade em outros segmentos, como o de petróleo. Os mercados domésticos sofreram contágio, mas para um dia tão conturbado nos pregões externos até que não se saíram tão mal. Para obter recursos para especular em outros mercados, os fundos venderam títulos da dívida externa brasileira. Refletindo as vendas, o risco-país subiu 1,34%, para 378 pontos-base. Os investidores externos interromperam o fluxo para a Bovespa. O volume foi de R$ 1,78 bilhão, quando supera facilmente os R$ 2 bilhões com presença forte de estrangeiros. O índice caiu 1,74%, para 28.514 pontos. Concentrado na queda-de-braço entre o Banco Central e as instituições em torno da taxa ideal desejada pelo governo para o momento, o mercado de câmbio descolou-se da tendência internacional de queda. Os bancos puxaram o dólar para até R$ 2,7320, alta de 1,37%, antes do leilão de 40 mil contratos de swaps cambiais reversos feito pelo BC na hora do almoço. Queriam testar os limites do BC, até onde gostaria de puxar a cotação. Mas o BC recusou-se a vender a totalidade dos contratos. Colocou 30.400, equivalentes a 76% da oferta total, apesar de a demanda ter alcançado 122.400.
Mercado testa limites cambiais do BC
Ao não aceitar integralmente as propostas, o BC informou ao mercado que não está disposto a pagar caro para evitar a apreciação do real. Para vender todos os 40 mil contratos, o BC seria obrigado a reduzir a sua remuneração, o cupom cambial que excede a variação do dólar no período da operação. Foi o sexto leilão de swap reverso desde que o BC anunciou o uso desse novo instrumento de redução de passivo cambial, no início de fevereiro. E o primeiro em que fez venda apenas parcial. Depois do leilão, a cotação caiu quase ao nível do fechamento anterior, R$ 2,6950, forçando o BC a voltar ao mercado e fazer leilão de compra diretamente no spot, a R$ 2,70. E o dólar fechou a R$ 2,7050, maior preço desde 20 de janeiro. O mercado futuro de juros da BM&F assustou-se com a turbulência externa e a alta matinal do dólar no mercado interno. Não há, por enquanto, um refluxo na liquidez internacional, nem um aumento da aversão ao risco. O grande capital não está saindo dos emergentes para se abrigar nos títulos americanos. Pelo contrário, os megadéficits dos EUA não credenciam o país. Mas na dúvida sobre os próximos lances desse jogo de gigantes, os DIs subiram em bloco. O contrato mais curto, para a virada do mês, subiu de 18,87% para 18,88%. E o mais líquido, para a virada do ano, avançou de 18,66% para 18,70%.