Título: Índia e China vão a cúpula dos Bric em meio a tensão comercial
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Fonte: Valor Econômico, 16/06/2009, Internacional, p. A2

Pequenas e médias empresas indianas advertiram estar sofrendo devido a importações baratas vindas da China. As companhias estão exortando o governo de Nova Déli a acelerar investigações antidumping e a impor controles de segurança e qualidade mais rigorosos em relação aos produtos chineses. Líderes dos dois países se reúnem hoje na cúpula do Bric, que inclui ainda Brasil e Rússia.

Os pedidos de maior proteção governamental surgiram em meio a crescentes tensões comerciais entre Nova Déli e Pequim, depois de uma importante disputa envolvendo uma interdição indiana à importação de brinquedos produzidos na China.

A Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da Índia divulgou uma pesquisa com 110 fabricantes de pequeno e médio porte que diz que cerca de dois terços deles tinham sofrido grave erosão na participação no mercado indiano nos últimos 12 meses devido ao aumento de importação de produtos chineses mais baratos.

Em sua declaração, a federação disse que os produtos importados da China são entre 10% e 70% mais baratos do que produtos similares indianos, um diferencial de preços que, ainda segundo a entidade, é "enorme e difícil de explicar".

Amit Mitra, secretário-geral da federação, disse que as indústrias indianas estão sendo prejudicadas por "políticas de preços predatórias típicas dos chineses" visando provocar o colapso de concorrentes para que as companhias chinesas possam capturar o mercado - e então elevar os preços para níveis mais normais.

O impacto foi sentido por companhias em diversos setores, como alimentos processados, engenharia leve, materiais de construção e engenharia pesada, produtos químicos e têxteis, disse a federação.

A indústria de transformação indiana defronta-se com graves desvantagens competitivas, em comparação com a China, entre elas infraestrutura deficiente e leis trabalhistas rígidas, que, perversamente, desestimulam o crescimento das empresas e, em vez disso, promovem fragmentação que as torna ineficientes.

Entretanto, Mitra afirmou que, mesmo se esses problemas fossem solucionados, as companhias indianas ainda não conseguiriam competir com os produtos chineses em seus niveis atuais de preço.

"Mesmo se realizarmos essas reformas, seríamos capazes de enfrentar os mecanismos de formação de preços dos chineses - de natureza artificial -, que têm por alvo setores específicos e os arrasam? Muito difícil", disse ele. A Federação cobrou que Nova Déli intensifique o ritmo de suas investigações antidumping e imponha testes mais exigentes de segurança e qualidade para proteger as companhias indianas de mercadorias chinesas baratas.

A Índia leva de 10 a 12 meses para investigar e publicar conclusões envolvendo queixas contra práticas de dumping. "O tempo é fundamental", disse Mitra. "Atualmente, o tempo consumido nas investigações antidumping é mais do que suficiente para eles liquidarem a indústria."

As importações indianas da China cresceram 55%, para aproximadamente US$ 27 bilhões, no ano financeiro encerrado em abril de 2008, e cresceram novamente no ano fiscal recém-encerrado, segundo dados do Ministério do Comércio indiano.

Em janeiro, Nova Déli anunciou uma interdição de seis meses contra importações de brinquedos chineses, citando preocupações sobre sua segurança, depois que fabricante de brinquedos indianos queixaram-se de que os produtos abocanharam a parte do leão desse mercado, que movimenta US$ 2,5 bilhões. Entretanto, a proibição foi suspensa depois de apenas dois meses, após Pequim ter ameaçado recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).