Título: Precipitação de empresas no início da crise ajudou a derrubar o PIB, avalia Lula
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2009, Brasil, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou ontem o setor automotivo e outras áreas industriais de terem se "precipitado" na baixa da produção e influenciado na queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. Para o presidente, alguns setores resolveram dar férias coletivas para diminuir seus estoques. E o setor automotivo, por exemplo, praticamente parou de produzir para vender os automóveis já produzidos e isso repercutiu no PIB.

Lula voltou, porém, a se mostrar bastante otimista com a retomada da economia brasileira, exemplificando que em abril 106 mil empregos foram criados e reafirmou que as políticas anticíclicas, para combater a crise, continuarão sendo utilizadas.

No primeiro trimestre, a contração do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 0,8%, bem menor que o esperado. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, propagou em Genebra que a taxa pode crescer para até 1,5% no segundo trimestre. Um dos principais assessores do presidente, Marco Aurélio Garcia, disse que uma taxa positiva já é bom no cenário de crise atual. Por sua vez, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), entidade dos maiores bancos do mundo, aumentou o pessimismo e calcula contração de 1,7% no PIB brasileiro este ano.

Lula disse que "depois de uma década e meia da taxa de investimentos atrofiada", não há razões para parar agora. Sua expectativa é de que a licitação do trem de alta velocidade entre o Rio e São Paulo ocorra em setembro, as de projetos como as hidrelétricas do rio Tapajós e de Belo Monte saiam até o fim do ano.

Lula foi aplaudido de pé diante da comunidade internacional, em Genebra. No Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), organizações não-governamentais acusaram o país de ambiguidade nas suas posições, particularmente em casos de graves e persistentes desrespeitos aos direitos humanos. O presidente deu a resposta no discurso. Disse que governos acusados de desrespeitar os direitos humanos tendem ao isolamento e ao radicalismo. e que não interessa a ninguém um ambiente que incentiva rancor e alimenta intransigência. "Este conselho deve buscar no diálogo e não na imposição, o caminho para fazer avançar a causa dos direitos humanos."

O plenário deu uma ovação a Lula quando ele criticou a flexibilidade no mundo do trabalho. Prometeu investimentos produtivos na África em parcerias e defendeu carga tributária alta para o Estado poder investir na área social.

Lula disse esperar que da crise atual possa emergir uma nova ordem internacional que recompense a produção e não a especulação. E um modelo que respeite padrões ambientalmente viáveis, regras comerciais internacionais que estimulem o desenvolvimento, combate à pobreza e a "desequilíbrios que maculam o mundo de hoje".

Ele lembrou que há dois meses os líderes do G-20 reconheceram que a prioridade não era salvar bancos ou financeiras falidas, mas defender empregos. E mostrou impaciência com a demora na implementação dos compromissos, indicando que está farto de ir a reuniões para decidir o que já foi decidido antes e marcar a reunião seguinte.