Título: Para japoneses, trem-bala pode não ficar pronto para a Copa
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 17/06/2009, Brasil, p. A3

A ligação Rio-São Paulo pelo trem de alta velocidade (TAV) pode não estar funcionando na Copa do Mundo de 2014, contrariando as expectativas do governo. É provável que trechos regionais, como as ligações de São Paulo a São José dos Campos ou a Campinas, entrem em operação até lá, mas não há como garantir a inauguração do trajeto entre as duas capitais em 2014. "Eu acho uma leviandade prometer isso", disse o vice-presidente da Mitsui Brasil, Masao Suzuki.

A multinacional japonesa forma um consórcio - ao lado da Mitsubishi Heavy Industry, Toshiba e Kawasaki - que estuda participar do leilão do TAV e é considerado pelo próprio governo como um dos favoritos para ganhar a concessão do projeto.

"Existe um imponderável muito grande no que diz respeito às desapropriações e ao licenciamento ambiental", afirmou Suzuki. O trem exigirá a passagem por grandes aglomerações urbanas e travessias complicadas, como a da Serra das Araras. O executivo lembrou que, em um projeto ferroviário, basta um entrave "no meio do caminho" para prejudicar a ligação entre as duas pontas. Ele também deixou claro que o governo precisará entrar com recursos públicos para viabilizar o TAV. "Sem apoio oficial, o projeto não para em pé", disse Suzuki, após participar de seminário na Câmara dos Deputados.

O empreendimento, inicialmente orçado em US$ 11 bilhões no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), teve sua estimativa de investimento elevada para mais de US$ 20 bilhões. O governo tenta enxugar os custos do projeto, com um traçado otimizado e estudos geológicos, para algo perto de US$ 15 bilhões.

O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, reforçou a intenção de que ter o trem-bala funcionando na Copa do Mundo. "Queremos que ele seja implantado em três anos e meio", afirmou. Segundo ele, os estudos de viabilidade do TAV devem ser colocados em consulta pública em julho. O edital sairá em outubro e a licitação deverá ocorrer em janeiro. "O objetivo é ter o contrato assinado até o fim do primeiro semestre de 2010."

Há duas semanas, no balanço quadrimestral do PAC, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também havia garantido que o trem estaria em operação na Copa. Na ocasião, Dilma usou o programa de computador Google Earth para mostrar uma simulação do trajeto do TAV, com suas futuras estações: Viracopos, Campinas (centro), Jundiaí (opcional), Campo de Marte, Cumbica, São José dos Campos, Aparecida (opcional), Resende, Barra Mansa, Galeão e Leopoldina.

Suzuki ressaltou que o interesse do grupo japonês não é apenas vender equipamentos, mas construir e operar o TAV. Segundo ele, cerca de 70% dos investimentos serão com as obras civis, mas o grupo ainda não fez uma estimativa própria da necessidade de desembolsos. A entrada dos japoneses na disputa dependerá dos estudos de demanda, da tarifa proposta e de quanto o governo aportará.

Suzuki afirmou ainda que o grupo pede um período de seis meses entre a divulgação do edital e a realização do leilão. É o tempo mínimo, disse o executivo, para elaborar uma proposta competitiva. Ele disse que os japoneses estão dispostos a financiar o TAV. "Estamos contando com apoio japonês em um financiamento de governo a governo."