Título: Lula define articulação política
Autor: Raymundo Costa e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2005, Política, p. A5
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a desatar hoje aquele que é considerado um dos principais nós da reforma ministerial: a definição da articulação política do governo. O último cenário em circulação no PT e no Palácio do Planalto prevê a nomeação de José Dirceu para o cargo e a indicação de outro nome para a Casa Civil, com a tarefa específica de cuidar da coordenação do governo. Outra hipótese é a coordenação política voltar para a Casa Civil com Dirceu, mas Lula ainda não se convenceu inteiramente da necessidade da mudança. Outro obstáculo da reforma, a suposta resistência de Ciro Gomes em trocar a Integração Nacional por um novo ministério, também está superado. "Estou à disposição do presidente para ajudá-lo fora do governo, dentro do governo e onde ele necessitar de mim", disse Ciro ao Valor. "Entreguei o cargo ao presidente há vários meses", acrescentou o ministro. Ele tomou essa iniciativa desde os primeiros rumores, em novembro, de que o presidente faria a reforma para recompor politicamente o governo. O nó da articulação política começa a ser desatado em conversa do presidente com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, prevista para hoje. Na quinta-feira da semana passada, em almoço, Aldo disse a Lula que não tinha condições de permanecer no cargo, sem os instrumentos necessários para exercer a coordenação, ainda hoje divididos com José Dirceu. Foi a terceira vez, desde que assumiu há pouco mais de um ano, que Aldo colocou o cargo à disposição do presidente. Aldo preferiu não pedir demissão, em caráter irrevogável, para não dificultar ainda mais os problemas que Lula tem enfrentado para compor o novo ministério. Ao contrário do que tem vazado do Planalto, o ministro no entanto deve considerar a hipótese de ocupar outro ministério, caso seja essa a decisão de Lula. Ainda ontem, um ministro próximo do presidente dizia que existe a possibilidade de Lula dar a Aldo as condições para ele permanecer no posto. Se isso não acontecer, ele pode ir para a Defesa ou para o Trabalho. A hipótese de Aldo ir para a Defesa ressurgiu porque o atual ministro, o vice-presidente José Alencar, não está satisfeito com a Pasta, que assumiu em novembro. Alencar está irritado com as dificuldades que vem encontrando para exercer sua autoridade. No caso da crise da Varig, por exemplo, está contrariado porque descobriu que uma intervenção ou ajuda do governo depende da Fazenda, e esta já decidiu que o governo não ajudará a empresa. Pelo novo desenho da Coordenação Política que está sendo avaliado por Lula, o ministro José Dirceu assumiria inteiramente as articulações com o Congresso, para recompor a maioria governista, e com os partidos, para negociar a coalizão que disputará com Lula a eleição de 2006. Numa Casa Civil restrita à coordenação de governo, como fazia Pedro Parente no fim do governo de Fernando Henrique Cardoso, as opções seriam Ricardo Berzoini, atualmente no Trabalho, ou Jaques Wagner, ministro do Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social, ou um empresário como Antoninho Marmo Trevisan, amigo do presidente. "Terciariamente", como se diz no PT, é considerado o nome de Miriam Belchior, atual braço-direito de Dirceu na Casa Civil. Muito embora o foco das atenções seja a coordenação política, Lula tem ainda vários outros nós para desatar antes de anunciar o novo gabinete. Alguns deles: quais os ministros do PT que serão demitidos, quem vai para o Ministério do Planejamento, como encaixar a senadora Roseana Sarney e ao mesmo tempo arrumar um bom lugar para o PP. A conversa com o Partido Progressista desandou por causa de uma articulação desastrada. Um dos líderes do governo negociou diretamente com líderes do PP a divisão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio - Luiz Fernando Furlan ficaria com a parte do Desenvolvimento e o embaixador José Botafogo Gonçalves, que é ligado ao PP, com a parte relativa ao comércio exterior. Ao tomar conhecimento da proposta, o líder do partido na Câmara, José Janene, reagiu com virulência e hoje está inteiramente sem diálogo com Lula. A Pasta dos Esportes, ocupada hoje por Agnelo Queiroz, do PCdoB, seria uma uma opção para o PP, mas o partido torce o nariz para o orçamento do ministério, de cerca de R$ 90 milhões. Uma outra alternativa seria acomodar o PP no Ministério das Comunicações, onde está Eunício Oliveira (PMDB-CE), que seria então deslocado para a Integração Nacional. Neste caso, o problema passaria a ser o que fazer com Roseana Sarney. O PT resiste em entregar o Ministério das Cidades. O Planalto já esperava o vazamento de denúncias contra o senador Romero Jucá (PMDB-RR), como a de que ele deve à Previdência. Por enquanto, atribui as acusações a disputas paroquiais.