Título: Bric devem apoiar uns aos outros, diz Lavrov
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Fonte: Valor Econômico, 17/06/2009, Especial, p. A14

Todos os membros do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - são subestimados no processo de tomada de decisões [mundiais]. Apoiar um ao outro, ter uma visão justa, é o que queremos."

A afirmação foi feita pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, em conversa com três jornalistas brasileiros ontem em Ecaterimburgo, pouco antes da primeira reunião de líderes dos Bric, que discutiram como fazer valer mais suas posições na cena global.

A Rússia participa do G-8, até agora o agrupamento de nações que mais consegue influenciar a economia mundial. Além disso, o país é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), tem armas nucleares e é visto como peso pesado, mas a interpretação de seu papel na cena internacional é razoavelmente moderada.

Lavrov reage quando ouve que o G-8, do qual a Rússia é membro, está morto. Mas reconhece que cada vez terá mais importancia o encontro juntando o G-8 - que inclui Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido, Canadá, França e Itália - com o G-5 - Brasil, China, Índia, México e África do Sul.

"O G-5 será um parceiro integral do G-8. A cooperação está se tornando mais sistemática. E o G-8 mais o G-5, ou G-6, pressuporá mais interação e, mais do que isso, mais institucionalização. Mas não um novo grupo", afirmou o chanceler russo. Ou seja, o G-8 não vai ser ampliado, e sim vai ter mais reuniões com o grupo dos emergentes.

O ministro russo das Relações Exteriores reafirmou o apoio de Moscou à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, juntamente com a Índia, o Japão, a Alemanha e a África do Sul. Já a China mantém sua posição contra, para não deixar o Japão entrar no órgão decisório mais restrito da ONU.

Se Lavrov acha que os Bric ainda têm pouca influência, ele demonstra também que a Rússia está disposta a bater na mesa. O ministro confirmou a decisão de abandonar as negociações para adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC), depois de 16 anos. Ele afirmou que o país se cansou de esperar, com promessas ao longo dos anos de que entraria na entidade.

Lavrov lembrou que um acordo com a União Europeia foi fechado em 2004 sobre as condições para Moscou aderir à OMC. E, em 2006, outro acordo foi concluído com os EUA. Mas os países voltavam depois com novas exigências, inclusive sobre temas que não têm a ver com comércio.

Lavrov revelou que este ano Moscou indagou de vez aos parceiros se a Rússia entraria na OMC até o final do ano. Diante das tergiversações, a decisão de Moscou foi então de recuar e agora retomar a negociação, mas juntamente com Cazaquistão e Belarus, de uma união aduaneira, pela qual aumenta sua esfera de influência no território que foi da União Soviética.

Com relação ao Brasil, ao saber que o país planeja construir 50 usinas nucleares até 2050, Lavrov alegrou-se e disse que a Rússia está pronta "a ganhar algum dinheiro" nesse projeto. E perguntou: "É errado ganhar direito com algo legal?".

Mas o ministro de Minas e Energia do Brasil, Edson Lobão, também presente em Ecaterimburgo, praticamente descartou a utilização de equipamento nuclear russo. O Brasil dá preferência no momento aos equipamentos franceses, embora a decisão ainda não tenha sido tomada. cada usina custa cerca de R$ 10 bilhões, segundo o ministro. (AM)