Título: País pode perder os benefícios da internacionalização
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2005, Especial, p. A10

O Brasil perdeu há 20 anos uma oportunidade de aproveitar os benefícios da internacionalização e se arrisca a perder de novo, porque não se integra de forma bem-sucedida às redes de conhecimento global. A afirmação é dos economistas Carl Dahlman e Cláudio Frischtak, no estudo "Tendências da Indústria Mundial, Desafios para o Brasil", que serviu de base para a preparação do Mapa Estratégico da Indústria. O estudo analisa fatores de sucesso e riscos enfrentados por blocos econômicos mais bem-sucedidos , Estados Unidos, Comunidade Européia e países do leste asiático, e faz comparações com a situação brasileira. Boas estratégias para educação e inovação são um dos pontos principais que separam o Brasil dos casos de sucesso. O país tem, como pontos fortes, o fato de ser uma economia de grande porte, rico em recursos naturais, com população numerosa e setor financeiro "razoavelmente bem desenvolvido", diz o estudo, que lista, porém, pontos fracos capazes de reduzir ou eliminar essas vantagens. Entre essas fraquezas, os economistas apontam as tarifas de importação relativamente altas, que impedem a "pressão competitiva" do exterior; a base produtiva "insuficientemente construída sobre recursos naturais para passar para produção de maior valor", o baixo nível de educação da população e fracas infra-estruturas física e administrativa. No aspecto financeiro, há fraca aplicação de ciência e tecnologia em serviços de negócios. Além disso, a baixa taxa de poupança e as altas taxas de intermediação encarecem os investimentos e capital de giro. Os economistas, que foram altos funcionários do Banco Mundial até recentemente, também listam oportunidades e ameaças para o Brasil no cenário internacional. Entre as oportunidades, o Brasil tem condições de usar o amplo mercado interno para alcançar economias de escala e se fortalecer na competição internacional. Pode, ainda, usar sua vantagem em recursos naturais usando mais intensivamente o conhecimento, de forma a adicionar valor e explorar o patrimônio mineral e vegetal. O país corre, no entanto, o risco de não ter empresas domésticas "suficientemente grandes e competitivas" para enfrentar os competidores estrangeiros e explorar o mercado externo, segundo alertam os economistas. O uso dos recursos naturais pode provocar uma excessiva especialização nesse tipo de mercadorias, com reduzida participação na atividade econômica global - a não ser que o país aproveite para desenvolver áreas de fabricação e de serviços. O país pode ampliar as conquistas na área de educação e treinamento e dar também um salto em infra-estrutura de ciência e tecnologia. Mas se arrisca a ficar atrás da China e da Índia, "que têm mais massa crítica de populações educadas e treinadas, com salários mais baixos". Além disso, o Brasil sofre a ameaça da falta de investimentos suficientes em treinamento para organizações e processos. Embora haja sinais de que o Brasil investirá na melhoria do sistema de inovação e na infra-estrutura física, para reduzir custos de produção e transporte, corre o risco de não ter "ambiente suficientemente indutor de competitividade para forçar mudanças tecnológicas" e de não fazer reformas institucionais complementares, como a redução de custos de alfândega. Dahlman e Frischtak mostram que os países bem-sucedidos nos últimos anos, principalmente na Ásia, têm, em comum, forte investimento na produção de tecnologia de comunicação e informação, principalmente voltada à exportação, e investimentos na educação superior. Entre as lições apontadas pelo estudo no sucesso da China está a integração à economia mundial, a acumulação de capital humano e o desenvolvimento de estratégia nacional de longo prazo, com quadro macroeconômico estável, pragmatismo e aperfeiçoamento das instituições. No caso da Índia, o saldo de crescimento, para 6% a 8% anuais na última década, enfatiza a importância da estabilidade econômica, de um sistema financeiro capaz de reduzir os custos de capital, e de investimentos em capital técnico, científico e gerencial. A também bem-sucedida Coréia do Sul mostra que o crescimento econômico se associa a crescente desigualdade de renda, o que exige maior acesso à terra e acesso a crédito e educação. Os coreanos mostram que é fundamental, para a integração competitiva ao mundo, fazer investimentos em capital humano e na criação de um sistema nacional de inovação. (SL)