Título: Para Ciro, há manobras conflitantes na definição de seu futuro eleitoral
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2009, Política, p. A8
De pré-candidato declarado à Presidência da República, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) transformou-se nos últimos dias em nome cotado para disputar a eleição ao governo de São Paulo em 2010 por força, segundo ele próprio, da articulação de dois grupos com objetivos distintos. Um deles estaria interessado em lhe "tirar do caminho" da pré-candidata preferida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Outro, "de boa fé", acredita que ele de fato tem condições de apresentar uma "alternativa" aos quatro mandatos tucanos consecutivos no Palácio dos Bandeirantes.
Ciro não identificou quem faria parte da turma que deseja manter o caminho livre para Dilma como candidata única da base governista no ano que vem. "Ainda estou pesquisando, mas não é coisa pequena", disse. Já o grupo de pessoas "sérias" e de "boa fé", de acordo com ele, inclui o presidente do PSB em São Paulo, Márcio França, e os deputados federais Aldo rebelo (PCdoB-SP), Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) e Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do partido na Câmara dos Deputados.
Independente das motivações de quem defende a alteração dos planos, o próprio deputado deu ontem sinais de que balançou diante da ideia. No início de uma entrevista em Porto Alegre, ele classificou o assunto como "fofoca" e disse que "jamais" havia pensado em concorrer em São Paulo. Em seguida, afirmou que como há "um punhado" de pessoas de respeito fazendo essa proposta, ele se "obriga" a pensar sobre o caso.
"Quando eu penso, sempre posso ser convencido; depende do mérito da ideia", afirmou Ciro, ressalvando que estava falando "em tese". Ele não explicou se toparia a parada apenas em caso de apoio do PT em São Paulo, hipótese que já provocou reações contrárias entre os petistas paulistas, mas afirmou que, "como o tempo permite, vamos ter que amadurecer essas coisas todas".
Enquanto pensa sobre qual o melhor caminho a seguir, Ciro mantém o título eleitoral em Fortaleza e insiste na tese da sua pré-candidatura à Presidência como a melhor alternativa para forçar a realização de um segundo turno entre um candidato da base governista e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O argumento é que as pesquisas indicam que, sem ele na disputa, a maior parte de seus votos migraria para o tucano.
Para o deputado, o presidente Lula faz uma avaliação "errada" do cenário para 2010 quando acredita que seus índices de aprovação popular podem se transformar integralmente em votos para a ministra da Casa Civil. Ele, ao contrário, entende que até setembro Dilma pode facilmente chegar aos 25% nas pesquisas, mas a partir daí a conquista de cada ponto adicional será mais demorada.
De acordo com Ciro, num cenário que inclui somente a ministra da Casa Civil como candidata governista "a tendência é que percamos a eleição". A saída, reforçou, é o lançamento de duas candidaturas da base, uma representando o "continuísmo" e outra representando "a garantia do que está bom e a mudança do que precisa ser mudado". A caracterização espantou até o deputado federal gaúcho Beto Albuquerque, pré-candidato do PSB ao governo gaúcho. "O José Fogaça (prefeito de Porto Alegre, do PMDB, em segundo mandato) usou esse slogan aqui", comentou Beto.