Título: Empresas de fertilizantes já projetam queda das vendas
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2005, Agronegócios, p. B9

O setor de fertilizantes inicia o ano com queda de vendas, demissões localizadas e revisão das expectativas para 2005. Os preços baixos de commodities como soja e milho no mercado internacional na fase de plantio da safra de grãos 2004/05 e a estiagem prolongada no Sul do país durante o desenvolvimento das lavouras são vistos como os principais fatores de pressão sobre as empresas da área, que em 2004 obtiveram bons resultados em razão da forte alta dos preços de matérias-primas para adubos derivadas do petróleo no exterior. Segundo a Associação Nacional para Difusão do Adubo (Anda), as vendas de fertilizantes no primeiro trimestre deverão apresentar baixa de 35% e somar 2,2 milhões de toneladas, ante 3,4 milhões no mesmo período do ano passado. Torvaldo Marzolla Filho, vice-presidente da Anda e presidente do sindicato das indústrias de fertilizantes do Rio Grande do Sul, diz que a expectativa era repetir os bons números do ano passado. "Nem no pior dos pesadelos esperávamos por essa situação", afirma. A estimativa da entidade neste momento para o ano é de queda de 5% nas vendas; em 2004, foram 22,8 milhões de toneladas. E a previsão de queda pode ficar ainda maior caso a estiagem persista. Neste cenário, a Fertilizantes Santa Catarina, fabricante de 390 mil toneladas de fertilizantes por mês, começou a demitir. O presidente da empresa, Pedro Kuzniecow, diz que se a demanda continuar fraca, terá que fazer novos cortes. Segundo ele, as vendas neste início de ano estão quase paradas. "É a pior crise desde que constitui a empresa, há 12 anos". Nesse momento, as vendas de adubos são voltadas principalmente para culturas de inverno como o trigo. A situação delicada não se restringe à região Sul. Aluisio Schwartz , diretor comercial da paranaense Adubos Boutin, que atua no Centro-Oeste, diz que o agricultor está desanimado e a previsão é de que no primeiro semestre as vendas recuem 25%. Uma queda de vendas não era sentida pela empresa há pelo menos seis anos. "Tivemos em 2003 e 2004 anos muito bons. Agora a situação é de estoque e vendas paradas". A Boutin diz que a estrutura de funcionários é enxuta e por isso não pretende demitir. A empresa aproveitará a baixa para concentrar esforços em outras áreas de atuação, como frutas e lojas de materiais agrícolas. No Paraná, há o temor de que empresas de pequeno porte que já tinham uma situação financeira delicada venham a quebrar com a fraca demanda deste início do ano. Marzolla, da Anda, crê que o setor contornará a situação. "Os estoques de alimentos nunca estiveram tão baixos no mundo. E estamos otimistas de que os preços das matérias-primas voltem à normalidade, assim como os preços das commodities". O presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Calcário (Abracal), Oscar Alberto Raabe, afirma que as indústrias venderão 3,5 milhões de toneladas a menos neste primeiro trimestre e isso resultará em um recuo estimado de 8% no ano, para 21 milhões de toneladas.