Título: Selic irá sofrer a sétima alta seguida, mas será a última, prevêem analistas
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2005, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fará em sua reunião mensal que termina no início da noite de quarta-feira a sétima alta seguida da taxa básica de juros. Mas será a última da série de aumentos iniciada em setembro. Esta é a opinião da grande maioria dos analistas consultados pelo Valor na sexta-feira. Dos 13 economistas pesquisados, 9 apostam em elevação de 0,50 ponto percentual, com a Selic avançando de 18,75% para 19,25%. Três projetam uma diminuição no ritmo de alta, para 0,25 ponto. E apenas um acredita na manutenção da taxa básica no atual patamar. O juro começou a subir em setembro, quando estava em 16%. De lá para cá, foram seis altas, acumulando 2,75 pontos percentuais. Parando em 19% ou 19,25%, a taxa ficará aí por longos meses. Após a mudança ocorrida no tom da ata do Copom, francamente mais otimista em fevereiro, a decisão que o Comitê tomará na quarta-feira não será fácil, no entender do economista-chefe da ABN Asset, Hugo Penteado. Sobretudo porque a economia não vem descrevendo um "vôo da galinha". Para Penteado, o crescimento é sólido. Tanto que já está induzindo investimentos produtivos na ampliação da capacidade instalada. Como quanto maior o investimento, maior a oferta futura de produtos, abre-se a possibilidade de uma importante desinflação no futuro. Mas isso não deve autorizar o BC a afrouxar, já em março, a sua política monetária. Penteado entende que há uma grande confusão em torno dos dados sobre a produção industrial de janeiro. Para alguns analistas, a queda de 0,5% sofrida em relação à dezembro demonstra um princípio de estagnação que permitiria o fim imediato do ciclo de aperto do juro. A leitura que o economista faz é diferente. Os dados demonstram que a indústria está muito perto de atingir seu limite máximo de produção. A oferta baixa vis-a-vis a demanda aquecida é foco preocupante de inflação enquanto se maturam os investimentos. O economista-chefe do Banco Pátria, Luis Fernando Lopes, acredita que a alta do juro desta semana será a última da série iniciada em setembro. Para o economista, que defendia a interrupção do arrocho já na reunião de janeiro, altas sucessivas não conseguirão forçar a convergência do IPCA para a meta ajustada oficial de 5,1%. "Nem o governo nem o mercado estão alarmados com a inflação. O IPCA será menor que os 7,6% do ano passado, mas não dá para enquadrá-lo nos 5,1% da meta", diz. Para o diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, o BC já deveria reduzir o ritmo de alta para 0,25 ponto. Os dados preliminares sobre a produção industrial de fevereiro já apontam para uma desaceleração mais forte. Seja qual for a elevação de março, a taxa será mantido estável até setembro. O Departamento Econômico do Bradesco prevê apenas mais uma alta de 0,25 ponto nesta reunião e a estabilidade da Selic em 19% por um bom tempo. As desacelerações já constatadas tanto na produção industrial quanto no IPCA dispensam a imposição de uma alta maior à taxa básica. Para o economista da Intra Corretora, Pedro Paulo B. da Silveira, se o Copom optar por um avanço de 0,50 ponto e manutenção dos termos lacônicos dos comunicados anteriores, irá levar o mercado a um "estresse desnecessário". Descartada essa hipótese, o BC pode escolher a alternativa de subir a Selic para 19,25%, mas escrever um comunicado brando, indicando o fim do processo de ajuste ou a proximidade dele. A segunda opção é elevar a taxa em apenas 0,25 ponto. "Os dados relativos à atividade industrial já devem ter removido o receio de que a economia esteja crescendo muito acima do potencial", observa o economista. O economista da distribuidora Pentágono, Marcelo Ribeiro, vê o Copom diante de um dilema. Enquanto as pressões inflacionárias em dissipação sugerem uma interrupção do aperto, as turbulência externas indicam a necessidade de preservação da cautela. A desvalorização do dólar no mercado externo, a elevação dos juros dos papéis de 10 anos do Tesouro americano e os sinais de repique na inflação dos EUA são hoje fatores mais importantes do que as variáveis internas. "Como os indicadores nos EUA se deterioraram recentemente, a continuação do aperto de 0,5 ponto em março me parece o mais adequado", diz Ribeiro. O economista Newton Rosa, da Sul-América Investimentos, também desaconselha uma flexibilização monetária num momento de inquietação internacional. Rosa não acredita que a alta de março será a última. Os sinais externos, sobretudo os emitidos pelo petróleo, provocam uma deterioração das expectativas de inflação do mercado. O cenário externo indica que o BC pode perder em breve o auxílio dado pela apreciação cambial no combate à inflação. Único analista entre os pesquisados pelo Valor a prever a manutenção da Selic em 18,75%, o economista-chefe do ABN AMRO Real, Mário Mesquita, diz que "nenhum aperto monetário é eterno". Ele já identificou sinais claros de que a alta de 2,75 pontos percentuais promovida desde setembro do ano passado já está produzindo resultados positivos contra a inflação. "Está na hora da parada técnica para observação dos resultados", diz Mesquita. A alta do dólar no mercado interno decorreu muito da própria atuação mais agressiva do BC nos mercados à vista e futuro. E não de pressões vindas de fora. Portanto, o Copom olhará a depreciação cambial ocorrida desde a última reunião como um fator já conhecido e não como pressão externa que deve merecer outro tipo de resposta. Na visão do economista, não há por que continuar subindo o juro apenas porque existem fatores de risco, como a alta recente do petróleo. Se essa variável persistir, será motivo para manter a taxa inalterada por mais tempo em patamar elevado, e não para subi-la mais.