Título: Banco prevê retomada mundial por celulose
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 19/06/2009, Empresas, p. B7

A gigante brasileira de celulose que nascerá da incorporação da Aracruz à VCP vai encontrar o setor no país vivendo uma conjuntura de retomada de atividade. Relatório divulgado pelo banco americano Goldman Sachs e estudo especial da Ágora Corretora traçam um cenário de reversão forte de tendência para a celulose de eucalipto, com as empresas brasileiras voltando a produzir a plena capacidade e avançando no mercado de produtores canadenses e europeus. Uma trajetória de alta de preços está em marcha, como constatam os analistas, atrelada a forte procura chinesa, redução do nível mundial de estoques e fechamento de capacidade das empresas, que retiraram do mercado, ao longo do primeiro semestre, 5,4 milhões de toneladas de celulose, para rebater queda da demanda mundial de 9% no primeiro trimestre.

Depois de atingir o fundo do poço em abril, quando o valor da tonelada da commodity bateu em US$ 480, em maio as empresas conseguiram elevar em US$ 20 a tonelada do produto. Para junho, foi anunciado novo reajuste de US$ 30, saltando para o patamar de US$ 530. Diante dessa recuperação, o Goldman Sachs decidiu rever para cima suas projeções anuais de preço médio para a tonelada da celulose de eucalipto (fibra curta) até 2012. As novas estimativas apontam para um preço médio de US$ 546 em 2009, ante previsão anterior de US$ 518. Para 2010, a expectativa do banco é a tonelada chegar ao fim do ano cotada em US$ 660 com média anual de US$ 645. A tendência de alta persiste em 2011 (US$ 678) e em 2012 ( US$ 700). Apesar da curva ascendente, a celulose de fibra curta não retoma nestes quatro anos o teto de preço de US$ 785, atingindo em 2008.

Neste segundo trimestre, as companhias brasileiras de celulose, que produzem celulose de fibra-curta, passaram a operar a plena capacidade e estão avançando num num mercado encolhido. Dados estatísticos levantados pelos analistas do Goldman e da Ágora confirmam a expansão. No primeiro quadrimestre do ano, os embarques mundiais de celulose decresceram 6,9% em relação ao mesmo período de 2008, enquanto as exportações brasileiras do produto cresceram 35,5%. A capacidade mundial de produção de celulose branqueada finalizou 2008 em 51,2 milhões de toneladas. A América Latina lidera com 27,4%, seguida pelos EUA (17,3%) , Canadá (15,7%) e os países Nórdicos (12,3%).

Dentro do continente latino americano o Brasil é o principal produtor de celulose, com capacidade de 8,7 milhões de toneladas contabilizadas no fim de 2008, representando 17% da capacidade mundial. A celulose de fibra curta é o foco de atuação das empresas brasileiras e é utilizada principalmente para produzir papel sanitário, de imprimir e escrever e papel especial.

Segundo avaliação do Goldman Sachs, a China está iniciando um ciclo de grande consumidora de papel. O banco espera que as companhias brasileiras de celulose se beneficiem ao máximo da demanda crescente da China por fibras. A combinação de urbanização crescente com expansão da, população vai aumentar o consumo per capita de papel no longo prazo. A China tem barreiras naturais para produzir celulose, como falta de terras de grande produtividade e poucas florestas. Ela vai continuar dependente das importações de celulose.

Nesse contexto, a líder global de celulose que sairá da fusão da VCP e Aracruz terá grande mercado potencial. Segundo o Goldman Sachs, a futura empresa terá status semelhante ao da Vale no minério de ferro. A Vale e a VCP estão entre as empresas com menores custos de produção nos seus setores. A maior parte das operações das duas companhias está localizada no Brasil e seus projetos de expansão estão focados em projetos brasileiros, o que deve reduzir custo de produção por tonelada. A Vale tem uma fatia no mercado transoceânico de minério de 32%, enquanto VCP mais Aracruz vão controlar 26% do mercado de madeira e de suprimento de celulose no mundo.