Título: Tempo no horário eleitoral gratuito valoriza disputa pelo passe do PMDB
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2009, Política, p. A8
O PMDB é o principal objeto da disputa entre o PT e o PSDB, no momento, por causa do tempo de rádio e televisão que o partido pode somar ao programa eleitoral gratuito de seus candidatos a presidente em 2010. A experiência mostra que o horário eleitoral pode ter um peso decisivo na escolha do eleitor, como mostraram as eleições municipais de São Paulo e Belo Horizonte, para citar apenas dois exemplos.
Por ter a maior bancada de parlamentares da Câmara dos Deputados, o PMDB tem direito à maior fatia do tempo do horário eleitoral a ser dividido entre todos os partidos. São aproximadamente três dos 25 minutos de cada bloco diário de programas (manhã, tarde e noite), que, somados ao tempo do PT (2min30s) ou do PSDB (1min9s), podem ampliar a vantagem de um ou de outro.
Na hipótese de serem quatro os candidatos - José Serra, Ciro Gomes, Dilma Rousseff e Heloisa Helena, para citar os quatro mais bem colocados nas pesquisas - cada um deles terá direito a mais dois minutos.
Como o PMDB não tem candidato próprio, esse é o objeto da cobiça dos dois partidos que têm os concorrentes mais fortes, muito embora tanto um quanto o outro fale em aliança programática e composições estaduais coerentes com a aliança nacional.
PT ou PSDB só poderão dispor dos minutos do PMDB por meio de uma coligação formal na eleição nacional. Isso se tornou mais fácil com o fim da verticalização. Na eleição passada o PMDB não se coligou com ninguém para ficar livre nos Estados para compor com quem bem entendesse. Agora liberou geral, embora bons acordos regionais devam facilitar a aliança nacional.
O tempo de rádio e tevê do PMDB se tornou ainda mais importante porque os líderes começam a julgar que a sucessão presidencial caminha para uma eleição plebiscitária entre o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - provavelmente Dilma Rousseff - e o do PSDB, que, todos apostam, será Serra.
O PT avalia que está mais perto de um acordo com o PMDB, porque os dois partidos já se acham aliados no governo, uma situação que somente mudaria no caso de a popularidade de Lula despencar e Dilma não se viabilizar como candidata.
Mas o PSDB ainda não desistiu do PMDB, partido que em 2002 indicou a candidata a vice-presidente na chapa de Serra. Assim como se tornou um interlocutor assíduo de Lula - com quem esteve por mais de 1h30, na véspera do feriado de 1º de Maio, no Palácio da Alvorada - , o presidente do PMDB, deputado Michel Temer, também tem conversas frequentes com o governador José Serra - em São Paulo, há um pré-entendimento para 2010 entre Orestes Quércia, que controla do PMDB, e os tucanos.
Se não conseguir formalizar a coligação, o PSDB vai considerar um bom negócio se o PMDB ficar como em 2006, sem candidato. Com os partidos com os quais deverá contar na eleição (DEM e PPS), o PSDB garantiria aproximadamente 6min30s. Tempo maior que o PT conseguiria sem o PMDB, contando apenas com seus aliados tradicionais, como o PCdoB (cerca de 5 min). A maior parte dos aliados de hoje do PT negocia com os dois lados. O PSB, tradicional aliado, fala até em lançar o deputado Ciro Gomes.
Parece pouco, mas em televisão é muito como demonstrou a eleição paulistana de 2008 - Gilberto Kassab tinha 8min44s73; Marta Suplicy, 6min40s75. O tucano Geraldo Alckmin naufragou com seus 4 min27s42, a metade do tempo de Kassab, que no início da campanha era muito menos conhecido que o ex-governador de São Paulo.
O PT saiu na frente também porque tomou a decisão de dar prioridade à coalizão com o PMDB, em reunião do Diretório Nacional. Mas como reconhece um de seus dirigentes, o problema é que todos no partido acham que a aliança com os pemedebistas deve mesmo ser prioridade, só que no Estado vizinho - no seu sempre há uma especificidade que impediria o acordo.
Em Minas Gerais, por exemplo, porque os dois principais líderes do partido - o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, se confrontaram nas eleições municipais e ambos são fortes candidatos ao governo estadual. Isso excluiria, naturalmente, o candidato que lidera as pesquisas para o governo do Estado e é do PMDB - o ministro das Comunicações, Hélio Costa.
Como a conta não fecha, fala-se no PT em oferecer a Costa a vaga de vice na chapa de Dilma (o candidato ao Senado seria Pimentel ou Patrus). Mas o PSDB entende que pode oferecer a Hélio Costa uma candidatura ao Senado com o apoio do governador Aécio Neves.
O PT promete também impor a vontade do Diretório Nacional (leia-se Lula) nos casos em que o candidato pemedebista for o favorito e o petismo local resolver criar caso. Pragmaticamente, os dirigentes reconhecem que isso será possível no Rio de Janeiro, onde o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, ameaça disputar com o governador Sérgio Cabral, mas nunca em Minas Gerais.
Esses cenários são formulados em função da disputa mais provável entre Serra e Dilma, como apontam hoje as pesquisas. Mas nada assegura que esse será o quadro de 2010. O PSDB, a rigor, ainda não se definiu entre Serra e Aécio, apesar de cada vez mais ficar claro que os dois caminham para um entendimento. E os aliados mais empedernidos do governo ainda desconfiam que Dilma será efetivamente a candidata de Lula, devido a seus problemas de saúde. Essas incertezas deixam os partidos assediados cautelosos e os levam a adiar o maximo possível negociações mais definitivas.