Título: HSBC reforça cacife nos emergentes
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2009, Finanças, p. C1

O britânico HSBC resolveu elevar as apostas nos mercados emergentes, o que resultará em uma mudança significativa em sua estratégia de negócios. Agora o banco vai buscar 60% dos resultados nos mercados emergentes e não mais os 50% anteriores. A participação das economias mais desenvolvidas vai diminuir de 50% para 40%. A decisão foi tomada em reunião de cúpula dos 55 principais executivos do HSBC do mundo todo, realizada há 10 dias, em Londres, com o presidente Michael Geoghegan.

Na prática, isso significa colocar mais fichas em países como o Brasil e China. "Definimos onde é mais importante colocar o capital", disse Shaun Wallis, um dos participantes do seleto grupo de altos executivos do HSBC que participou da reunião com Geoghegan. Na semana passada, Wallis passou a presidência do banco no Brasil para Conrado Engel, depois de um ano no comando. Com 30 anos de HSBC, ele foi designado diretor global de negócios do banco comercial, baseado m Hong Kong, subordinado a Sandy Flockhart.

Na reunião da cúpula do HSBC, contou Wallis, foi feita uma avaliação bem pessimista do futuro da economia americana e europeia. "O que mais me impressionou foi a perspectiva a respeito da crise global totalmente diferente da que temos no Brasil. Houve uma destruição enorme da atividade econômica e financeira na Europa e Estados Unidos. Em consequência, o HSBC acredita que vai levar muitos anos para superar isso e voltar aos níveis anteriores. Dizem que o pior já passou. Mas a recuperação não vai se dar em pouco tempo", afirmou.

Enquanto isso, os mercados emergentes, especialmente a China, estão revelando grande resistência, em parte beneficiados pela forte transferência de negócios que houve nos últimos anos, acarretando o aumento da poupança. Nesse cenário, nasceu a nova estratégia do HSBC.

Segundo maior banco do mundo em valor de mercado, o HSBC tem pelo menos duas vantagens. Uma é a resistência revelada na crise econômica, o que lhe permitiu dispensar a ajuda do governo, enquanto vários concorrentes de peso ainda enfrentam dificuldades. "Há menos bancos ao redor", disse Wallis.

Outra vantagem é a origem do banco, a Ásia e os negócios comerciais. O HSBC foi fundado há 144 anos em Hong Kong por um grupo de empresários estrangeiros, com o objetivo de financiar o comércio exterior da Ásia com o resto do mundo. "O banco sempre buscou capturar os fluxos comerciais. Seu nome em chinês era Wayfoong, que significa abundância de remessas de dinheiro e valores", afirmou Wallis, que já morou em Hong Kong por 12 anos e considera a cidade seu segundo lar.

Enquanto os consultores dizem que a crise vai levar os bancos a voltar ao básico, Wallis diz que o HSBC nunca deixou deixou sua origem, que é financiar os negócios. "O HSBC sempre esteve no básico, com a diferença de que a nova área dinâmica em desenvolvimento se concentra mais no hemisfério sul e abrange a América do Sul, África, Ásia e Oriente Médio."

Como diretor global de negócios do banco comercial do HSBC, Wallis estará no centro de aplicação da nova estratégia do grupo. A área de banco comercial, que oferece crédito e serviços a pequenas, médias e grandes empresas faturou US$ 4,6 bilhões em 2008 e foi responsável por 44% dos resultados brutos do banco. E tem mostrado especial dinamismo no Oriente Médio, Ásia e Brasil, de acordo com relatórios dos banco.

Uma das principais tarefas de Wallis será aplicar o projeto "One HSBC" no banco comercial. O projeto foi lançado por Michael Geoghegan, quando assumiu a presidência global, em 2006, depois de quase dez anos no Brasil. O objetivo é padronizar produtos, processos e tecnologia, com a adoção de modelos comuns de negócios para a obtenção de ganhos de escala com a integração das operações nos 86 países em que atua.

O projeto está em execução com previsão para estar em funcionamento dentro de dois anos. Em cerca de 40 países os sistemas já estão integrados. Até o fim deste ano, toda a América Latina estará usando um só sistema, com exceção dos grandes mercados como México e Brasil, que terão que esperar mais dois anos.

O projeto não envolve apenas a área tecnológica mas também a padronização de processos e modelos com o objetivo de reduzir custos e ganhar eficiência. "A ideia é ter uma cozinha e restaurantes diferentes. Geralmente as necessidades das empresas e das pessoas são quase as mesmas nas diferentes partes do mundo. Assim, os produtos financeiros podem ser basicamente os mesmos, apesar das peculiaridades culturais", explicou Wallis.