Título: Crise inibe financiamento a emergentes
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2009, Finanças, p. C2

Países emergentes como o Brasil continuarão enfrentando dificuldades neste ano para voltar a atrair fluxos de capital externo abundantes como os que receberam antes da crise, de acordo com um novo relatório que será divulgado hoje pelo Banco Mundial (Bird).

A instituição estima que os países em desenvolvimento receberão apenas US$ 363 bilhões em fluxos de capital privado neste ano, depois de atrair US$ 707 bilhões em 2008 e US$ 1,2 trilhão em 2007. América Latina e Caribe deverão receber US$ 128 bilhões.

Muitos investidores exibiram otimismo nos últimos meses e voltaram a apostar nas bolsas de valores do Brasil e de outros mercados emergentes, mas o Bird acredita que os problemas enfrentados pelas economias mais avançadas continuarão inibindo a reativação de fluxos de capital mais significativos.

Na avaliação dos economistas do Bird, três fatores contribuirão para manter bancos e investidores retraídos. O principal é a recessão, que continuará gerando perdas para o sistema financeiro e inibindo seu apetite por risco. O banco prevê que a economia mundial sofrerá contração de 2,9% neste ano e crescerá apenas 2% no próximo.

O aumento da interferência dos governos de países avançados nos negócios do sistema financeiro também deverá criar problemas. Ela obrigará os bancos a agir com mais prudência e gerará pressões para que financiem a recuperação da atividade econômica local em vez de dar crédito a outros países, diz o Bird. Além disso, há a expansão do endividamento dos Estados Unidos e de outros países ricos. Eles precisarão captar trilhões de dólares no mercado nos próximos anos para financiar seus planos de estímulo econômico e restaurar a saúde do sistema financeiro. O Bird acredita que isso afastará muitos investidores dos mercados emergentes.

Segundo o banco, a contração sofrida pelos fluxos de capital estrangeiro desde o segundo semestre de 2008 foi mais abrupta do que a observada em episódios anteriores de grande estresse financeiro, como a crise da América Latina na década de 80 e a que afetou a Ásia e a Rússia no fim da década de 90.

Empresas e bancos de países emergentes captaram US$ 1,2 trilhão com emissão de bônus e empréstimos de bancos internacionais entre 2003 e 2007, de acordo com o relatório. Eles agora têm dificuldades para se refinanciar e só conseguem fazê-lo pagando juros muito maiores que os de antes da crise.

O Bird reconhece que houve alguma melhoria nos últimos meses, mas observa que apenas empresas de primeira linha conseguiram voltar a captar recursos no mercado internacional e muitos investidores têm preferido financiar governos de países emergentes do que voltar a apostar no setor privado.

Países do Leste Europeu que se endividaram muito nos anos anteriores à crise estão sofrendo mais agora. Países como Brasil, China e Índia, que acumularam reservas e reduziram o endividamento externo, têm melhores condições de se manter à tona enquanto a economia mundial não volta a crescer, diz o relatório.

Investimentos estrangeiros diretos na construção de fábricas ou na aquisição de companhias locais também deverão diminuir, ao contrário do que ocorreu em crises anteriores. O Bird calcula que eles alcançarão US$ 385 bilhões neste ano, 30% menos que no ano passado.

Apesar dos sinais de que a fase mais aguda da crise ficou para trás, o Banco Mundial acha que ainda há muitas incertezas na paisagem econômica e prevê que a recuperação da economia mundial será lenta e pouco vigorosa. Os países em desenvolvimento devem crescer apenas 1,2% neste ano e 4,4% no próximo, diz o Bird.

Mas nem todo mundo vai acompanhar esse ritmo, segundo o relatório. Se a China e a Índia forem excluídas da conta, o conjunto dos países emergentes sofrerá uma contração de 1,6% neste ano, prevê o Bird. A instituição estima que o Brasil terá uma contração de 1,1% neste ano, crescerá 2,5% no próximo e 4,1% em 2011.