Título: Obama tenta dar cutucão comportamental nos EUA
Autor: White, Joseph B.
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2009, Internacional, p. A11

A partir de então, Obama e a sua maioria do Partido Democrata no Congresso americano têm lançado uma série de propostas para incentivar os cidadãos e modificar o comportamento em setores tão diversos como saúde, finanças e ambiente.

Os conservadores criticam essa iniciativa dizendo que é sintoma de um "governo babá", que enfraquece a responsabilidade individual ao tirar as decisões das mãos dos cidadãos. Obama e seus assessores veem a questão como um governo que "cutuca" - que dá aos cidadãos a liberdade para fazer suas escolhas, mas organiza as opções de um jeito que aproveita a letargia da população para o seu próprio bem, ou para o bem comum, como uma mãe que posiciona um prato de fruta num lugar fácil de alcançar enquanto guarda os biscoitos na prateleira mais alta.

Obama não é o primeiro presidente a enxergar margem para melhorar a maneira como as pessoas conduzem suas vidas. Ronald Reagan incentivou os americanos a dizer não às drogas. Bill Clinton sancionou uma ampla reforma da previdência social que visava incentivar os beneficiados a voltar a trabalhar.

Mas as iniciativas de Obama vão além de exortações e incluem uma série de políticas elaboradas para afastar as pessoas do comportamento ruim e favorecer boas escolhas.

"A novidade aqui é a ideia de "dar um empurrão" e mudar a estrutura das escolhas", disse Eric Patashnik, professor de política da Universidade de Virgínia. O conceito do empurrão ("nudge" em inglês), foi apresentado no livro "Nudge - O Empurrão para a Escolha Certa", que tem como um dos autores Cass Sunstein, especialista em economia comportamental que foi escolhido por Obama para dirigir o Escritório de Administração e Orçamento do governo.

Se a pessoa ainda fuma, a FDA, agência americana que fiscaliza alimentos e remédios, vai policiar a publicidade voltada a encorajar o hábito - do qual o próprio presidente já foi adepto.

Obama também quer que o americano perca peso. Num discurso recente, o presidente disse que um país mais sadio "significa sair para correr ou ir à academia, e criar os filhos para que deixem o videogame de lado e passem mais tempo brincando ao ar livre".

Como se esse beliscão presidencial no pneuzinho da nação não fosse suficiente, o Congresso prepara uma proposta que obrigaria os restaurantes a divulgar a quantidade de calorias de cada pratos nos seu cardápio.

Kenneth Baer, o diretor de comunicações do Escritório de Administração e Orçamento, diz que o objetivo do governo é ajudar as pessoas a tomar decisões melhores e mais bem informadas, não escolhas forçadas. "Dirigir é preferível a remar", diz.

O histórico do governo como motivador de mudanças no comportamento é irregular. As tentativas de Jimmy Carter de usar o Salão Oval nos anos 70 para pregar as virtudes de economizar energia atraíram apenas o desprezo dos rivais. Pat Caddell, um ex-assessor de Carter, diz que esses esforços podem funcionar - mas levam tempo. Quando ele era mais jovem, jogar lixo na rua era prática comum, mas a cultura mudou ao ponto em que se "tornou socialmente inaceitável", diz.

Erwin C. Hargrove, professor emérito de ciência política da Universidade Vanderbilt, diz que o governo Obama parece estar tentando embalar seus incentivos para a automelhora não em termos morais, como fez Carter, mas em termos de interesse nacional. "Um moralista pregando às pessoas não vai a lugar nenhum", disse Hargrove.