Título: Novos prefeitos reaglutinam oposição
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Fonte: Valor Econômico, 04/01/2005, Política, p. A5

As eleições municipais de 2004 colocaram de maneira definitiva a sucessão presidencial na pauta política, ao aglutinar internamente as oposições. Os insucessos petistas em Porto Alegre e São Paulo tiveram como principal saldo reforçar a necessidade de alianças para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentar a vitória em 2006 ainda no primeiro turno. Para isso, deverá se reduzir o espaço do PT dentro do governo. Já na oposição, a vitória do tucano José Serra na capital paulista consolidou o governador Geraldo Alckmin como a opção tucana. Embora Serra tenha expressão eleitoral própria, a difícil disputa com a prefeita Marta Suplicy (PT) e a participação de Alckmin na campanha fez com que este acabasse capitalizando internamente o sucesso do correligionário. O grupo cearense do partido sinalizou na primeira semana depois da eleição que não disputará a indicação partidária e apenas o governador mineiro Aécio Neves ainda resiste a apoiar Alckmin. A maioria dos tucanos acredita que o mineiro quer garantias de que poderá disputar a Presidência em 2010. Mas há os que suspeitam de uma candidatura já em 2006. O triunfo do pefelista Cesar Maia no Rio fez com que o PFL desencadeasse uma operação para que o próprio prefeito carioca seja candidato ou para que o partido negocie, em condição privilegiada, a aliança com o PSDB. Ameaçado de decomposição, o PFL diminuiu suas dissidências internas, paradoxalmente graças à derrota do partido em Salvador para o pedetista João Henrique Carneiro. Sem condições de ser o aliado preferencial do Planalto na Bahia, o senador Antonio Carlos Magalhães desistiu de sair da sigla e restabeleceu a convivência com o presidente do partido, Jorge Bornhausen. O elo foi o prefeito do Rio. Como prefeito de São Paulo, José Serra se fortaleceu para ser um grande eleitor dentro da sigla. Permanece como presidente do partido ao menos no começo de 2005 e será decisivo na negociação de alianças para a candidatura presidencial e para Alckmin definir sua própria sucessão ao governo paulista. Ninguém no partido acredita que o prefeito deixará o cargo para se candidatar. Mas aliados advertem que o apoio de Serra a Alckmin - aliás jamais verbalizado publicamente - não é incondicional. Tucanos fortemente alinhados com o prefeito opinam que tudo irá depender do apoio financeiro que Alckmin dará à prefeitura e da escolha de um candidato ao governo estadual que satisfaça Serra, não atrapalhando as possíveis candidaturas do prefeito eleito a presidente ou a governador em 2010. A precoce candidatura de Cesar Maia teve o objetivo de deflagrar a discussão sobre 2006 fora da seara governista. "Até abril, estará definido se faremos uma coligação orgânica com o PSDB ou iremos com ele. Sua candidatura não deixou que um vácuo se formasse", afirmou o deputado goiano Vilmar Rocha, da Executiva do PFL. Para o deputado Eduardo Paes (RJ), da cúpula tucana e interlocutor freqüente do prefeito, a candidatura de Cesar Maia afeta o PSDB. "Como o vice-governador de São Paulo é do PFL, isso reforça a tendência de um acordo", afirmou, referindo-se ao vice-governador Claudio Lembo. O pefelista já avisou a interlocutores que será candidato caso consiga atingir um patamar de dois dígitos nas pesquisas de opinião pública que forem feitas depois das inserções do PFL no rádio e na televisão. Caso contrário, dirá ao povo que fica, conforme declarou neste sábado, ao tomar posse em seu terceiro mandato como prefeito. No PT, a derrota de Marta Suplicy, em São Paulo, e de Raul Pont, em Porto Alegre, e as vitórias de Fernando Pimentel, em Belo Horizonte, Luizianne Lins, em Fortaleza, e João Paulo, no Recife, devem impactar a organização interna. O partido fará em 2005 a sua eleição direta para a escolha da nova Executiva Nacional. Os prefeitos, que eram 87 na eleição interna passada e agora serão 411, deverão ter mais influência. Interessado em se reeleger, o presidente nacional do PT, José Genoino, já começou uma reestruturação interna para diminuir o peso dos paulistas e dos gaúchos na burocracia petista e aumentar o dos prefeitos e o dos dirigentes do Nordeste e de Minas Gerais. As eleições municipais não colaboraram para diminuir as divisões entre as forças que tentam escapar da polarização tucano-petista. As cúpulas do PPS e do PDT negociam uma fusão, que não conta com o entusiasmo nem do ministro Ciro Gomes nem dos governadores e principais prefeitos eleitos de ambos os partidos. Tanto o prefeito de Salvador, João Henrique, como o de Campinas, Hélio Santos, por exemplo, já deixaram claro que não querem conversa alguma sobre construção de uma candidatura contra Lula em 2006. No PMDB, a eleição municipal afetou pouco afetou a eterna divisão do partido: o único prefeito eleito em uma grande capital é o de Goiânia, Iris Rezende, que apóia a tese de afastamento do Palácio do Planalto. Derrotado nos principais centros do Rio, o presidenciável Anthony Garotinho perdeu margem de manobra para a construção de sua candidatura. (CF)