Título: PT busca apoio do PMDB a Greenhalgh
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2005, Política, p. A6

Já prevendo uma batalha política com o PSDB, as lideranças do PT intensificam as articulações nesta semana em Brasília para evitar riscos na eleição do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para a presidência da Câmara. A principal estratégia é garantir o apoio do PMDB ao PT na Câmara, considerando que, no Senado, a eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para a presidência está garantida sem traumas, com apoio do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá encontrar-se amanhã com Calheiros e o atual presidente do Senado, José Sarney, para sacramentar a estratégia de sucessão nas duas Casas. A vitória de Calheiros e Greenhalgh daria mais segurança política a Lula, que quer dinamismo no Congresso em 2005 para aprovar projetos relacionados à agenda do desenvolvimento, preparando o terreno para a reeleição de 2006. Lula quer os presidentes do Senado e da Câmara trabalhando em plena sintonia com o ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, que não será trocado na reforma ministerial, segundo interlocutores do presidente. Lula criticou, em conversas reservadas no Planalto, o comportamento do PT paulistano e da ex-prefeita Marta Suplicy de negar apoio ao PSDB na eleição para a presidência da Câmara de São Paulo. O presidente avaliou que o gesto cria problemas para a candidatura de Greenhalgh à presidência da Câmara. Segundo assessores palacianos, o próprio Lula havia aconselhado o PT municipal a não se meter na disputa interna do PSDB, respeitando o princípio da proporcionalidade, que dá à maior bancada o direito de fazer o presidente do Legislativo. A avaliação no Planalto é que Marta é a principal culpada pela decisão do partido em incentivar a dissidência tucana, mesmo sabendo que isso poderia interferir no plano nacional. Alimentado pelos adversários de Greenhalgh e pelo episódio paulistano, o petista mineiro Virgílio Guimarães negava-se nesta segunda a aceitar o pacto do PT em torno do candidato já escolhido pela bancada: "A candidatura avulsa é regimental e o PT sempre apoiou este instituto. Se é que houve um pacto (de não lançamento de candidatos avulsos do PT), não foi comigo e esqueceram de me avisar". Hoje, o presidente nacional do PT, José Genoino, desembarca em Brasília para dar início a uma série de conversas com presidentes de todas as legendas. Ele e Greenhalgh reuniram-se ontem em São Paulo para analisar como o PT pode minimizar o efeito da eleição de Roberto Trípoli para presidente da Câmara Municipal. Greenhalgh vai iniciar os contatos oficiais com todos os líderes partidários. Parlamentares do PFL e do PSDB acreditam que o desentendimento em São Paulo dá fôlego às oposições em Brasília. Genoino tem dito aos tucanos paulistas que o PT nacional recomendou o respeito à proporcionalidade e o apoio ao candidato escolhido pelo PSDB - Ricardo Montoro -, mas prevaleceu a autonomia da bancada petista na Câmara Municipal: "Não houve uma ruptura de acordo com o PT em São Paulo porque não teve acordo. Nós não podemos ficar indexando o que aconteceu em São Paulo ao que vai acontecer em Brasília. Estamos dialogando com o PSDB e nosso esforço é para buscarmos uma negociação". Ele usará ainda como argumento nas negociações o fato de o PSDB não ter apoiado o PT em outras capitais, como em Belo Horizonte. O presidente do PT disse ainda ser favorável a uma espécie de protocolo geral entre os partidos para que, a partir de agora, todos respeitem os critérios de proporcionalidade nos Legislativos, dando à maior bancada o direito de indicar os presidentes. "Greenhalgh tem trajetória e história políticas que o credenciam para ser presidente da Câmara. Ele quer dirigir uma Casa forte e autônoma, dialogando com todos os partidos", assegurou o petista. O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), que vai se lançar à presidência da Câmara, comemorou ontem o distanciamento entre o PT e o PSDB. "Esse episódio (de São Paulo) só reforça a máxima que é difícil conversar com o PT, mas confiar no partido é impossível", diz. "Tenho falado diariamente com 20, 25 deputados e a recepção à minha candidatura é ótima", acrescentou. O líder pefelista rejeita qualquer acordo com o PT - como a vice-presidência da Câmara, em troca de abandonar a candidatura. "Não aceito este posto, sou candidato à presidência e se a vaga de vice couber ao PFL, ela será ocupada por outro deputado", afirmou. O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), acha que "o não cumprimento da proporcionalidade em São Paulo fortalece as razões para o PSDB apoiar o PFL no Congresso". A candidatura de Aleluia, segundo ele, integra o processo de aumento da combatividade da oposição em 2005. O líder do PSDB na Câmara, Custódio Mattos (MG), reiterou que a bancada vai rever o apoio a Greenhalgh diante do que ocorreu em São Paulo: "Não vamos retaliar, mas vamos reavaliar o nosso apoio". (com agências noticiosas)