Título: Câmbio volátil freia aquisições de empresas
Autor: Saigol, Lina
Fonte: Valor Econômico, 23/06/2009, Finanças, p. C10

A volatilidade extrema nos mercados de câmbio pode ser boa para os operadores, mas está tornando cada vez mais difícil para os presidentes de empresas vislumbrar aquisições internacionais. De março para cá o dólar já caiu 15% em relação a libra e 9% comparado ao euro. Os presidentes de empresas não decidem estratégias de aquisição de longo prazo com base no câmbio de um único dia, mas as oscilações cambiais podem dificultar a conclusão de um negócio.

Embora o risco cambial em fusões e aquisições internacionais seja um problema antigo, ele é hoje uma preocupação muito maior, uma vez que a escala da atual volatilidade do câmbio não é observada há muito tempo, segundo afirma James Douglas, sócio de consultoria de dívida da Deloitte. "Os compradores estão tendo que decidir se financiam as aquisições em moeda doméstica, ou na moeda da empresa-alvo, antes da conclusão de um negócio."

As flutuações cambiais significam que se um comprador europeu fosse adquirir uma empresa americana por US$ 50 bilhões, isso acrescentaria US$ 754 milhões em custos cambiais comparado há 12 meses, segundo o JP Morgan.

As companhias globalizadas podem usar os lucros obtidos fora de seus países de origem para comprar empresas no mercado internacional, mas como os compradores não transferem o dinheiro de um negócio enquanto ele não é concluído, eles podem ficar muito expostos às flutuações cambiais registradas entre o anúncio e a conclusão do negócio.

"O custo de um passo errado aumentou significativamente e o espaço para erros está menor", afirma Rashid Hoosenally, diretor mundial de estruturação de câmbio do Deutsche Bank. "Os financiamentos estão no geral mais apertados e está mais difícil ampliá-los se o câmbio fica desfavorável ao comprador."

A General Electric passou por isso quando comprou a Amersham, companhia de diagnósticos médicos do Reino Unido. O conglomerado americano anunciou o negócio de 5,7 bilhões de libras em outubro de 2003. Quando ele foi concluído, em maio de 2004, o dólar havia caído 12% ante a libra e a GE foi forçada a pagar quase US$ 350 milhões para fechar o negócio. Como o negócio envolveu apenas ações, a GE tinha opções limitadas de hedge contra a desvalorização.

Mesmo quando os negócios são realizados em dinheiro, os interessados na compra precisam chegar a um equilíbrio delicado entre a administração adequada da exposição cambial e não exagerar no hedge (proteção), de modo que ele não venha a minar o lado econômico do negócio.

"As ações se tornaram um componente mais importante no financiamento de negócios em relação à divida, e embora se possa fazer uma ponte na dívida ou emitir dívida na moeda do país de origem da empresa alvo, normalmente não dá para fazer isso com as ações, ou as emissões de direitos de subscrição de ações", diz Robin Johnson, sócio de fusões e aquisições internacionais da Eversheds.

Uma maneira de compensar o câmbio desfavorável é conseguir o financiamento completo da aquisição na moeda do país da empresa-alvo - normalmente através de empréstimos-ponte com vistas a uma tomada de ações ou dívida.

Outro grande problema com as fusões internacionais quando o câmbio oscila muito, é que os fluxos de caixa que eventualmente vêm da aquisição precisam ser repatriados pelo câmbio futuro.

Se, por exemplo, uma companhia europeia faz uma proposta de compra a uma companhia americana, os acionistas serão pagos em ações da companhia europeia. Como essas ações não deverão ser denominadas em dólar, os investidores poderão se ver expostos a risco cambial adicional.

Os hedges cambiais normalmente são uma mistura de opções e contratos futuros. Embora contratos futuros sejam mais baratos porque, ao contrário das ações, não carregam taxas, deixam a empresa muito exposta à oscilação do câmbio na direção errada se o negócio não for fechado.