Título: Catástrofe na Ásia vai marcar história da Suécia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2005, Internacional, p. A7

Proporcionalmente, um dos países mais duramente afetados pelo maremoto no sul da Ásia fica a quase 8.000 km da região. Com 52 mortos confirmados e mais de 2.300 desaparecidos, a Suécia terá provavelmente a sua pior catástrofe em tempos de paz. Com pouco menos de 9 milhões de habitantes, a Suécia deverá ser, em relação à população, o terceiro país com maior número de vítimas, depois de Sri Lanka e Indonésia.

Segundo o governo sueco, havia cerca de 20 mil cidadãos do país na região do maremoto, especialmente na Tailândia, destino turística muito popular para quem foge do frio inverno escandinavo. Na semana passada, após hesitar alguns dias em relação ao impacto do desastre, o primeiro-ministro sueco, Göran Persson, advertiu o país de que o número de mortos pode superar mil pessoas. Segundo balanço divulgado ontem pelo governo, além de 52 mortos já confirmados, há 827 oficialmente desaparecidos (que com certeza estavam nas proximidades da área devastada) e 1.495 pessoas com paradeiro desconhecido (sobre as quais não há informação suficiente para dizer se estavam na área diretamente atingida).

Ainda que o número final de mortos seja menor, mais próximo da previsão do premiê Persson, será o maior num único dia em tempos de paz. O maior desastre anterior ocorreu 1994, quando um ferry-boat afundou no mar Báltico, matando 892, sendo 551 suecos). E será o maior número de vítimas do país desde a batalha de Poltova, em 1709, quando tropas suecas foram derrotadas por forças russas do czar Pedro, o Grande. Estima-se que 6,9 mil suecos morreram numa única manhã. Há mais de 200 anos a Suécia não participa de uma guerra. "O maremoto vai dobrar a taxa de mortalidade infantil da Suécia em 2004. Aqui, todo ano morrem cerca de 300 crianças em idade pré-escolar. Mas muito mais podem ter morrido naquele dia. A catástrofe de 2004 ficará marcada para sempre como um pico na curva de mortalidade infantil", afirmou Hans Rosling, professor de saúde pública no Instituto Karolinska, de Estocolmo, ao jornal sueco "Dagens Nyheter". Segundo ele, nunca tantas crianças suecas morreram num único dia. O maremoto será um evento único na história do país. Mas não é só a Suécia que aguarda a localização e identificação dos turistas mortos no desastre do dia 26 de dezembro. Até agora, há menos de 400 vítimas fatais estrangeiros identificadas (entre elas dois brasileiros) nos países da região. Mas existem mais de 4.400 desaparecidos e quase 5 mil pessoas com paradeiro ainda desconhecido. Depois da Suécia, os maiores grupos são de alemães, austríacos, franceses e italianos. Há, porém, um número ainda não determinado de americanos desaparecidos. O governo dos EUA não divulgou uma estimativa. Acredita-se que parte dessas vítimas nunca serão encontradas, pois os corpos teriam sido tragados pelo mar.