Título: Importação de insumos cresce em maio
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2009, Brasil, p. A5

A importação de insumos pelas empresas brasileiras aumentou em maio, na esteira da recuperação da produção industrial e, em menor medida, da valorização do câmbio. No mês passado, o volume de compras externas de bens intermediários (como produtos químicos, aço, e borracha) cresceu 1,8% em relação a abril, feito o ajuste sazonal.

A alta, ainda que modesta, é a primeira a ocorrer nessa base de comparação desde agosto de 2008, segundo cálculos do BNP Paribas, com base nos números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Na série sem ajuste sazonal, as quantidades importadas de bens intermediários subiram 7,5% sobre abril deste ano.

O economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, diz que as compras externas de insumos sempre acompanham muito de perto a produção industrial. "Quando a indústria se recupera, as importações de bens intermediários são retomadas com uma defasagem pequena." Como a melhora da produção local neste ano é modesta, o aumento do volume importado também não é dos mais expressivos, avalia Ribeiro. Nos quatro primeiros meses do ano, a fabricação industrial cresceu 6,2% em relação ao nível de dezembro do ano passado. Na comparação com o mesmo período de 2008, porém, ela encolheu 14,7%.

O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, diz que a elevação das importações de insumos ocorre num cenário em que grande parte da indústria já ajustou o nível de estoques. Livre do excesso de inventários, as empresas voltam a produzir mais, o que as leva a comprar um volume maior de bens intermediários.

Lintz destaca que, a despeito da crise, a demanda segue relativamente firme. A massa salarial continua a avançar a um ritmo razoável, garantindo que o consumo se mantenha em níveis elevados, o que um estímulo fundamental para a indústria retomar a produção, observa ele.

Para o economista Paulo Miguel, da Quest Investimentos, é natural que a importação de insumos se recupere, como resultado do crescimento da produção. Ele nota que há uma melhora na fabricação de bens finais, como automóveis, o que tende a se traduzir em mais compras de bens intermediários. "Os bens finais reagem primeiro, e esse dinamismo é transferido para as outras etapas da cadeia", afirma Miguel.

Na série sem ajuste sazonal, o volume importado de produtos químicos em maio cresceu 17,9% em relação a abril, enquanto o de metalurgia básica (onde se encontram os produtos siderúrgicos) teve alta de 13,5%. As compras de artigos de borracha e plástico, contudo, caíram 2,3% no período.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, relativiza o aumento da importação de bens intermediários. "O resultado de um mês é pouco para indicar que seja algo sustentável e que há uma retomada de fato." Para Vale, o desempenho das compras externas de insumos "parece algo semelhante com o comportamento recente da indústria": há uma recuperação tímida, que se dá depois de uma queda gigantesca. De janeiro a maio, as importações de insumos ainda amargam perda de 31,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Segundo Vale, a queda do dólar nos últimos meses pode ajudar a explicar o aumento das compras externas de intermediários em maio. "Com o câmbio real apreciado como está, fica muito favorável para as empresas tentarem diminuir seu custo de matéria-prima comprando no exterior", afirma ele.

Ribeiro, por sua vez, vê pouca influência do câmbio valorizado na alta recente das importações de insumos. Para ele, é a retomada da produção que explica o aumento das compras externas desses produtos. "A indústria no Brasil é estruturalmente dependente de insumos importados", diz Ribeiro. Segundo ele, as importações desses bens crescem no país mesmo quando o câmbio está mais desvalorizado, desde que a produção industrial esteja em alta.

Ribeiro diz que o câmbio valorizado tem mais impacto sobre a compra de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) e bens de capital. As importações de bens duráveis, aliás, já mostram alguma reação desde março. Em maio, elas aumentaram 3,3% em relação a abril, na série ajustada sazonalmente pelo BNP Paribas. Já as compras de bens de capital continuam muito fracas, registrando queda de 12% nessa base de comparação. Com a elevada capacidade ociosa em grande parte dos setores da economia, muitas empresas adiaram ou cancelaram os seus projetos de investimentos, o que derrubou a demanda por máquinas e equipamentos.