Título: Sarney fortalece aliança com DEM na indicação de diretores
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 24/06/2009, Política, p. A7

Numa manobra para blindar politicamente o atual comando da Casa, o senador José Sarney demitiu ontem dois dos principais dirigentes da burocracia do Senado - Alexandre Gazineo, diretor-geral, e Ralph Siqueira, diretor de Recursos Humanos. Para o lugar dos dois foram nomeados funcionários da mais absoluta confiança do grupo que ganhou a eleição para a presidência do Senado, em fevereiro, constituído basicamente por PMDB, DEM e PTB, numa tentativa de isolar a oposição formada por PSDB e PT.

Para a direção-geral foi nomeado Haroldo Tajara, que durante muito tempo foi funcionário da primeira secretaria do Senado, há pelo menos seis anos uma espécie de feudo do DEM. Já Doriz Marize Peixoto, que vai para a diretoria de recursos humanos, é da confiança do senador Sarney. As nomeações têm prazo de validade - até a elaboração de novas regras para a eleição dos novos diretores do Senado, os quais teriam mandato fixo de dois anos. Mas a oposição saiu da reunião que teve com Sarney convencida de que a solução encontrada, mesmo que seja provisória, tem como objetivo acabar com o vazamento diário de atos praticados pelas últimas direções do Senado, como a nomeação de parentes para cargos bem pagos.

Mesmo entre aliados de Sarney havia a expectativa de que o presidente do Senado procurasse nomes "acima de qualquer suspeita", conhecidos, mas ele preferiu manter a guarda fechada, segundo um desses senadores. Sarney amarrou os 14 votos do DEM ao deixar que o primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) nomeasse o novo diretor-geral.

O Democratas assim ficou com a primeira-secretária e a diretoria-geral da Casa. Na eleição da Mesa, em fevereiro, esses cargos foram reivindicados pelo PSDB para uma eventual composição em torno do nome de Sarney. No fim, os tucanos preferiram apoiar o petista Tião Viana (AC).

Com a decisão, Sarney se recompôs com Heráclito, do qual se afastara no início da crise. Na manhã de ontem, os dois tiveram uma longa conversa, antes do anúncio das decisões, no final da tarde. Sarney também dividiu a a crise com a oposição, ao "atender" uma reivindicação do PSDB - a demissão de Gazineo -, o que não mereceu a comemoração dos tucanos.

Os dois diretores, exonerados ontem, são protagonistas de denúncias da existência de pelo menos 663 atos secretos para nomear e exonerar parentes de senadores, entre outras ações administrativas. Os nomes de Haroldo Tajra e Doris Peixoto foram definidos ontem pela manhã, em reunião de Heráclito Fortes com Sarney e Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado. Tajra é ligado a Heráclito Fortes e seu pai é primo de Jesus Tajra, suplente do senador. Trabalhou com Heráclito, com Efraim Morais (DEM-PB) e Romeu Tuma (PTB-SP).

Doris foi chefe de gabinete da ex-senadora Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão. Ela presidiu os trabalhos da comissão responsável pelo levantamento de todos os atos secretos da Casa. "Assumo a responsabilidade pelos erros e acertos deles", declarou o primeiro-secretário, Heráclito Fortes, referindo-se aos novos diretores, por ele indicados. Foi nomeado também Petrus Elesbão para a diretoria de estágio. O cargo estava vago desde que Sânzia Maia, esposa do ex-diretor-geral Agaciel Maia, saiu do posto.

"Não procurei funcionários ´estrelas´ para o cargo. Quis ´prata nova´, para a renovação do Senado", disse Heráclito. O senador afirmou que não considera Gazineo responsável pelos atos administrativos secretos, mas justificou a exoneração dele "devido às circunstâncias". Com o mesmo argumento, justificou o afastamento de Ralph.

O grupo político de Sarney, composto por PMDB, DEM e PTB, segundo apurou o Valor, tenta com as mudanças preservar a imagem do presidente do Senado. O primeiro-secretário procurou mostrar ontem que o Senado fará "todas as apurações necessárias". "Não colocaremos nada debaixo do tapete", disse. A apuração das irregularidades, segundo Heráclito, deve ser feita em três meses.

Os novos diretores foram anunciados ontem pouco antes da reunião da Mesa Diretora do Senado com o presidente Sarney e líderes partidários. Não haverá suspensão dos atos administrativos secretos, segundo Heráclito. "Vamos analisar um a um e ver a natureza de cada ato", explicou o primeiro-secretário. "Há muitos casos em que o sigilo era desnecessário." O benefício vitalício para os diretores do Senado serão anulados daqui por diante.