Título: Chile critica Brasil por recomendar adiamento de viagem
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2009, Brasil, p. A3

A presidente do Chile, Michele Bachelet, queixou-se ontem publicamente da recomendação do governo brasileiro de que os turistas evitassem viajar para o Chile e a Argentina devido à disseminação da gripe A (H1N1) nesses países. Já o governo argentino se manifestou discretamente.

Em visita oficial a Washington, Bachelet criticou o Brasil por aconselhar crianças, idosos e pessoas portadoras de doenças causadoras de imunodeficiências a não viajarem aos dois países vizinhos, que já registram o maior número de casos da gripe A e de mortos pelo vírus em toda América do Sul. Segundo números do Ministério da Saúde da Argentina, o Chile registrava, até ontem 5.186 casos e sete mortos, enquanto a Argentina tinha 1.391 casos e 21 mortos.

"Respostas dadas a partir do susto, do medo, não são as respostas que nós, que trabalhamos em saúde, sabemos que são as necessárias para enfrentar uma epidemia dessa natureza", afirmou Michele Bachelet em visita à sede da Organização Panamericana de Saúde, em Washington, segundo informou a imprensa chilena.

A ministra da Saúde da Argentina, Graciela Ocaña, reagiu mais suavemente, afirmando apenas que seria uma medida "correta" porque se trata de uma questão "sanitária". Na verdade o governo argentino não teria muitos argumentos contra o Brasil porque logo que a gripe A começou a disseminar-se no México, recomendou aos turistas argentinos que evitassem aquele país, provocando irritação das autoridades mexicanas. A Secretaria de Turismo não se manifestou e a Associação Argentina de Agências de Viagem afirmou que só comentaria a recomendação brasileira depois que a secretaria fizesse comentário oficial.

No entanto, a prefeitura da cidade de San Carlos de Bariloche, que se preparava para receber cerca de 60 mil turistas brasileiros para a temporada de inverno, não escondia a decepção com as declarações do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Ainda mais porque apenas três dias atrás o Itamaraty inaugurou o primeiro consulado itinerante na cidade, para atender e dar apoio aos turistas brasileiros.

O diretor de Segurança e Defesa Civil da cidade, Carlos Aristegui, disse ao Valor que não entendia a posição do governo brasileiro, "contraditória" em sua opinião. "É chamativo que o governo brasileiro coloque um consulado na cidade para atender aos turistas e três dias depois recomende que os turistas não venham", disse o funcionário, frisando que não tem ideia, por enquanto, do impacto que terá para a cidade o cancelamento das reservas dos brasileiros, um dos maiores grupos que visitam a famosa estação de esqui argentina.

Questionada ontem pela reportagem sobre a queixa de Aristegui, a embaixada respondeu através de um porta-voz que a abertura do consulado vinha sendo estudada há três anos baseado em expectativas de crescimento do movimento turístico de brasileiros na cidade, que ainda se mantém.