Título: Contas paralelas acirram ânimos na Casa
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2009, Política, p. A11

A troca de comando do Senado, anunciada pelo presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), na terça-feira, mostrou-se insuficiente para minimizar a crise deflagrada com a divulgação de atos administrativos secretos, para nomeação e exoneração de funcionários. A divulgação do saldo de R$ 3,74 milhões em duas contas paralelas à chamada Conta Única do Tesouro Nacional gerou protesto entre senadores e Sarney chegou a anunciar a criação de uma nova comissão de sindicância para investigar o caso.

Todos os recursos destinados ao Senado passam pela conta única, cuja movimentação pode ser verificadas no Siafi, sistema financeiro que permite o acompanhamento dos gastos. As contas paralelas constam no Siafi, porém não é possível checar a movimentação delas.

As duas contas, abertas na Caixa Econômica Federal, foram identificadas em relatório da Fundação Getulio Vargas, contratada pelo Senado para propor medidas para uma reforma administrativa da Casa. O senador Renato Casagrande (PSB-ES), presidente da Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, pediu esclarecimentos à presidência e afirmou que as contas paralelas são "um extremo risco de controle", por não permitir total transparência no acompanhamento das movimentações. Casagrande sugeriu que as contas paralelas sejam fechadas e que os recursos sejam enviados à conta única.

No fim da noite de ontem, o primeiro-secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI), minimizou o problema e disse que não haverá mais sindicância para apurar o caso, por não haver um "fato grave". Tanto a assessoria de Sarney quanto Heráclito disseram, entretanto, que pedirão informações sobre as contas à direção-geral.

Com maior controle na direção do Senado, Heráclito Fortes e seu partido, o DEM, defenderam ontem Sarney e minimizaram a crise enfrentada pelo pemedebista. "Ele tem compromisso com o Senado", comentou Heráclito. "O presidente continua prestigiado. Ele está tomando providências", reforçou Demóstenes Torres (DEM-GO).

Senadores críticos da atuação de Sarney na presidência da Casa têm receio que a mudança na direção do Senado não gere alterações profundas na administração da Casa.

A indicação do diretor-geral, Haroldo Tajra, e da diretora de Recursos Humanos, Doriz Marize Peixoto, por Heráclito reforçou a aproximação entre DEM e PMDB e, por conta disso, PSDB e PT, principais críticos a Sarney, desconfiam das mudanças. "A crise é séria, mas vamos esperar as ações dos novos diretores", disse Álvaro Dias (PSDB-PR). "Heráclito pediu para dar um voto de confiança aos diretores. Vou aguardar", comentou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). O líder tucano pediu o afastamento de Agaciel Maia, ex-diretor-geral da Casa, ligado a Sarney, do quadro de funcionários do Senado, para evitar que ele continue com influência enquanto é investigado.