Título: Mais pessimista, CNI reduz projeção para o PIB
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2009, Brasil, p. A10

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem previsões mais pessimistas para a economia em 2009, mas seu cenário ainda é melhor que o da pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central com base nas projeções do mercado financeiro. Nas comparações com 2008, as variações calculadas pela CNI que mais chamam atenção são a retração de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB), recuo de 3,5% no PIB industrial e forte redução de 9% no investimento, a pior desde 1996.

Em março, a entidade esperava estabilidade (0%) no crescimento do PIB, recuo de 2,8% na produção industrial e queda de 4,4% no investimento. Por outro lado, a previsão da CNI é melhor para a expectativa do consumo das famílias. A previsão anterior era de queda de 0,9%, mas, agora, espera aumento de 0,7%.

A última pesquisa Focus prevê retração de 0,6% para o PIB, queda de 4,75% na produção industrial, inflação (IPCA) de 4,4%, Selic de 8,75% no fim do ano e saldo comercial de US$ 20,8 bilhões.

As expectativas da CNI para a balança comercial também estão muito abaixo dos números divulgados em março. Agora, espera exportações de US$ 151,5 bilhões, importações de US$ 130 bilhões e saldo de US$ 21,5 bilhões. Três meses atrás, o saldo calculado era de US$ 18 bilhões, a partir de vendas de US$ 157 bilhões e compras de US$ 139 bilhões. Também preocupa a entidade a expressiva queda das vendas externas de manufaturados. De janeiro a maio, a quantidade embarcada desse tipo de mercadoria é 29% menor que a do mesmo período em 2008.

Segundo avaliação do economista-chefe da entidade, Flávio Castelo Branco, o país não vai ter crescimento forte e sustentado sem recuperação do mercado internacional. Ele disse que a demanda interna, baseada no consumo das famílias e na política fiscal expansionista, evitou projeções ainda mais pessimistas, mas ela é insuficiente para retomar o desempenho que aqueceu a economia nos primeiros nove meses de 2008. "É impossível voltar a crescer fortemente sem o mercado internacional", avisa.

Um retorno aos níveis mais elevados da utilização da capacidade instalada na indústria é algo que "vai demorar", de acordo com a perspectiva da CNI. "Não é para 2009", garante o economista da entidade. A produção industrial teve retração de 15% no primeiro quadrimestre deste ano. Ele também lamenta que a maior ociosidade prejudica sensivelmente os planos de investimento.

Apesar dos números mais pessimistas para 9 dos 16 indicadores macroeconômicos de 2009, Castelo Branco admite que o segundo trimestre deve ser um "período de transição" para uma recuperação "modesta" no segundo semestre. Ele explicou que, pela maior exposição ao mercado internacional, a indústria é o setor mais prejudicado pela crise econômica mundial e registrará retração, se o desempenho for comparado ao de 2008.

Com relação à política fiscal, a CNI não acredita que será cumprida a meta de superávit primário do setor público, reduzida de 3,8% para 2,5% do PIB. Esse esforço de reservar recursos para o pagamento dos juros da dívida deve ficar em 2,15% do PIB em 2009.

Se o crédito para as grandes empresas vem sendo normalizado, o mesmo não ocorre com micros, pequenas e médias indústrias, critica Castelo Branco. Apesar da recente trajetória de queda da taxa Selic, os spreads - diferenças entre os custos de captação de recursos e de concessão de empréstimos - continuam elevados.

O economista da CNI ainda procura ressaltar que a inadimplência das pessoas jurídicas, na faixa de atraso maior que 90 dias, elevou-se para 2,92% em abril. Outro problema que o setor enfrenta, segundo ele, é a valorização da moeda brasileira, o que tira competitividade das exportações.

A taxa de desemprego, segundo a CNI - média anual como porcentagem da população economicamente ativa - deve ficar em 8,9%, abaixo da previsão de março (9,1%). Em 2008, o desemprego foi de 7,9%. Se o emprego celetista voltou a ter saldos mensais positivos desde fevereiro, a criação de vagas na indústria é menor que em 2008.

Nos cálculos da CNI para a previsão de retração de 0,4% no PIB, são consideradas, em pontos percentuais, contribuições positivas do consumo do governo (0,6 ponto percentual), do consumo das famílias (0,4) e, no lado da oferta, o setor de serviços (1,3). O desempenho negativo é medido nos componentes do investimento (1,7), nas exportações (1,4), importações (1,7) e setores da agropecuária (0,1) e indústria (1,0).