Título: Rendimento mostra lenta deterioração em maio
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2009, Brasil, p. A11
O comportamento da renda em maio confirmou o processo de lenta deterioração do mercado de trabalho. O rendimento médio real (descontada a inflação) ficou em R$ 1.311,70, mostrando uma queda de 1,1% sobre abril, a quarta seguida em relação ao mês imediatamente anterior. Já ante maio de 2008 houve alta de 3%, mas a renda perdeu fôlego também nessa base de comparação: em janeiro de 2009, ela havia crescido 5,87% em relação ao mesmo mês do ano passado.
O impacto da crise - especialmente sobre a indústria - e o efeito mais fraco do aumento do salário mínimo explicam a tendência de piora do rendimento, que tende a prosseguir nos próximos meses. A taxa de desemprego, por sua vez, registrou recuo de 8,9% em abril para 8,8% em maio.
De qualquer modo, a deterioração do mercado de trabalho ocorre num ritmo mais lento do que se esperava, dizem economistas como Fábio Romão, da LCA Consultores, e Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados. Para Romão, o recuo da inflação nos últimos meses ajuda a explicar o fato de a renda, em termos reais, ainda mostrar alguma resistência. No entanto, o impacto favorável da queda dos índices de preços deve perder força daqui para frente, observa ele.
A massa salarial, que leva em conta a renda real e a ocupação, também dá sinais de arrefecimento. "Ela passou de um crescimento de 7,84% em janeiro de 2009, na comparação contra o mesmo mês do ano anterior, para uma expansão de apenas 3,26% em maio de 2009", dizem os economistas do Banco Fator, em relatório. "A massa salarial, o grande motor da expansão da demanda agregada nos últimos anos, cresce a taxas menores, ensejando uma dúvida sobre o ritmo de crescimento que deve prevalecer após o fim da crise."
Para Thaís, a tendência é que, nos próximos meses, "a massa salarial acentue a sua trajetória mais declinante, tanto pela menor expansão da população ocupada quanto pela renda". Ela chama a atenção para o avanço cada vez mais lento da população ocupada em relação com os mesmos meses do ano passado. Em maio, houve alta de apenas 0,22% nessa base de comparação, bem menos que os 3% de dezembro de 2008, observa. "Com isso, mantém-se a expectativa de deterioração do mercado de trabalho, com redução da população ocupada simultaneamente ao aumento do número de pessoas desocupadas." Para Thaís, os números indicam claramente que a piora da situação do emprego e da renda no país continua em curso, embora a um ritmo mais lento e menos intenso do que o inicialmente imaginado.
Alguns analistas, contudo, preferem destacar a maior resistência do mercado de trabalho brasileiro ao impacto da crise. A economista Luiza Rodrigues, do Santander, diz que o crescimento do número de empregos formais nos últimos anos ajuda a explicar esse desempenho melhor que o esperado há alguns meses. Demitir um trabalhador com carteira assinada é mais caro, o que leva muitas empresas a pelo menos adiar a dispensa, avalia ela. Com os resultados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Luiza revisou a sua previsão para a taxa média de desemprego em 2009 de 9,1% para 8,5%. No ano passado, a taxa média ficou em 7,9%.
Romão também acha que a situação do mercado de trabalho é melhor do que se poderia esperara, dada a magnitude da crise. Ele observa que a taxa de desemprego do mês passado, de 8,8%, é a segunda menor da série histórica iniciada em 2002 para meses de maio. Ela só é superior aos 7,9% registrados em maio de 2008, quando a economia brasileira estava bastante aquecida. "De 2002 a 2007, a taxa de desemprego em maio ficou acima de dois dígitos", ressalta ele. Na série com ajuste sazonal, a desocupação em maio foi de 8,5%, um pouco superior aos 8,3% do mês anterior, mas o mesmo percentual registrado em março, segundo cálculos da LCA.
O economista enfatiza que a situação do emprego e da renda é bem diferente nos diversos setores da economia. A indústria é o segmento que mais sofreu, segundo ele. Em maio, a ocupação teve queda de 6% em relação ao mesmo mês do ano passado. Na construção civil, por sua vez, houve recuo de 0,1%. A situação é bem melhor no comércio e nos serviços. O primeiro viu o nível de ocupados subir 0,9% em maio, enquanto o consolidado de serviços (como os voltados para empresas, os domésticos, a administração pública e outros) teve alta de 1,9%. "Mais uma vez, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) deixou claro que o principal ajuste do mercado de trabalho tem sido feito no setor industrial", resume ele, observando "que alguns segmentos, sobretudo os serviços, têm colaborado para estancar o processo de deterioração, que teve o seu pior momento entre o fim de 2008 e o primeiro trimestre deste ano".