Título: Presidente da Embrapa deve ser definido à revelia do PT
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2009, Política, p. A14

Mesmo com a resistência de setores do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está decidido a nomear o agrônomo geneticista Pedro Antônio Arraes Pereira como novo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A estatal está, há três meses, no centro de um complicado processo de transição em seu comando. Desde que o físico Sílvio Crestana pediu afastamento do cargo, em março, oito nomes foram inicialmente selecionados e os lobbies políticos passaram a pressionar nos bastidores por indicações.

Apoiado por boa parte dos chefes dos 41 centros de pesquisa da estatal, e com a simpatia de entidades da agricultura familiar e empresarial, o carioca Pedro Arraes, 55 anos, foi selecionado por um "comitê de busca" instituído pelo Conselho de Administração da Embrapa há dois meses. Primo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), Arraes figura como primeiro da lista tríplice enviada ao presidente Lula pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Os outros nomes da lista são o ex-diretor Dante Scolari e o pesquisador Élsio Figueiredo.

Uma audiência de Lula com Arraes estava marcada para ontem, mas as negociações internas no governo sobre a medida provisória de regularização fundiária da Amazônia mudaram os planos. O encontro deve ocorrer hoje ou na próxima semana.

A indicação de Arraes despertou reação contrária de um grupo do PT, inconformado com o apoio da senadora da oposição Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), ao nome do pesquisador. Arraes teve indicação formal pela federação estadual da Agricultura de Goiás (Faeg), mas também recebeu apoio de entidades vinculadas à agricultura familiar no Estado.

O PT questiona o processo de seleção, considerado "secreto" por um grupo de deputados e dirigentes do partido. Mas parte da comunidade científica defende os procedimentos como uma "blindagem" contra ingerências partidárias. Em favor de Arraes, está a experiência como cientista há 28 anos nos quadros da Embrapa. No exterior, o atual chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão coordenou o laboratório virtual (Labex) da Embrapa nos Estados Unidos entre 2003 e 2007. No governo Fernando Henrique Cardoso, Arraes foi um dos gestores do "Plano Avança Brasil".

Os últimos dias foram recheados de articulações nos bastidores, contra e a favor da nomeação de Pedro Arraes. A pedido da "velha guarda" da Embrapa, o ex-ministro Delfim Netto intercedeu por Arraes durante conversas com o presidente. Dirigentes do PT pediram a Lula para anular o processo de seleção. Mediador de embates partidários, o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, recebeu apelos veementes de ambas as partes.

Parte do PT recuou em sua estratégia de tentar zerar o jogo. Fala, agora, em manter a atual diretoria-executiva, onde está alojado o principal candidato dos petistas, o geneticista José Geraldo Eugênio de França, ex-secretário de Agricultura do governador Eduardo Campos. "Questiono o processo de seleção, mas não quero causar constrangimento ao presidente. É um governo de coalizão e zerar o jogo seria desmoralizar a empresa e o ministro", diz o dirigente petista Wilmar Lacerda, membro do Diretório Nacional do PT e ex-presidente do PT-DF. Outra parte do grupo ainda insiste na anulação do processo. "O Gilberto (Carvalho) está sabendo da posição do partido em favor do Geraldo Eugênio", afirma o deputado Pedro Eugênio (PT-PE). "É inaceitável a oposição querer indicar o comando e aparelhar a Embrapa. Quem está no governo é que tem esse direito", diz Fernando Ferro (PT-PE).

Apontado como ativo participa da vida da Embrapa, cientista respeitado e administrador experiente, Pedro Arraes terá que pacificar as correntes de pensamento na Embrapa, além de mostrar comando em um momento crucial de expansão da estatal, cujo plano inclui três novas unidades e orçamento superior a R$ 1 bilhão para 2009.