Título: Bertin vê eventual fusão com bons olhos
Autor: Rocha , Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 25/06/2009, Agronegócios, p. B11

O diretor-presidente da Bertin S.A, Fernando Bertin, disse ontem que vê "com bons olhos a fusão com empresas grandes, como Marfrig e JBS", mas que "não pensa em ser vendido ou perder o controle". A afirmação foi feita em resposta à questão sobre o andamento das conversações com a Marfrig, que já admitiu recentemente os contatos entre as duas companhias mas que informou que não há nada fechado.

Bertin não afirmou claramente, porém, se está ou não em negociações com as duas companhias que citou. "Conversa existe com tudo mundo", admitiu. "Todo mundo quer ser sócio da Bertin".

O argumento de Bertin para se manter no controle numa eventual fusão com Marfrig ou JBS é que, no caso da Bertin S.A, a família tem uma participação maior no capital do que nas outras duas, em que a fatia do controlador foi diluída com a ida à bolsa.

Na Bertin, os controladores têm 73,1% do capital e o BNDESPar é dono dos outros 26,9%. Na Marfrig, a família Molina dos Santos tem 50,44%, a BNDESPar, 14,66%, e o restante está com minoritários. Na JBS, o controlador tem 50,1%, a BNDESPar, 13% (diretamente) e outros 14,3% são de um FIP (Fundo de Investimentos e Participação) formado por BNDES, Funcef, Petros e JP Morgan. Minoritários têm 20%. "Só faríamos alguma coisa para não perder o controle", disse Bertin. Procurada para comentar o assunto, a JBS não se pronunciou.

O Valor apurou que é exatamente na questão do controle de uma eventual nova companhia que esbarram as negociações entre Bertin e Marfrig. Esta última também só tem interesse na união se tiver o controle da nova empresa.

De qualquer forma, uma fusão seria a alternativa para as duas empresas recuperarem musculatura após um 2008 difícil, em que todo o setor de carne bovina foi afetado pela menor oferta de gado para abate - resultado do ajuste da produção - e pela crise internacional, que impactou a demanda externa e o crédito das empresas.

Com elevadas fatias de suas dívidas em dólar, tanto Bertin como Marfrig encerraram o ano passado alavancadas. A primeira fechou com uma relação entre dívida líquida sobre o Ebitda de 4,5 vezes, e a Marfrig, de 3,8 vezes. No fim do primeiro trimestre deste ano, o endividamento líquido da Marfrig era de R$ 3,466 bilhões e a alavancagem anualizada (dívida líquida/Ebitda), de 3,77 vezes. A Bertin não abriu a situação de seus débitos no primeiro trimestre, mas no fim de 2008 a dívida líquida era de R$ 3,152 bilhões.

Hipoteticamente, uma companhia originada da fusão entre Bertin e Marfrig teria um faturamento anual de pouco mais de R$ 14 bilhões, considerando os números do ano passado.

Mas a fusão não é a única alternativa para a Bertin ganhar musculatura. Fernando Bertin disse que "se o mercado melhorar, o IPO [abertura de capital] é uma possibilidade". Explicou ainda que a saída prematura de João Nogueira Batista da presidência da companhia se deveu justamente ao mau humor do mercado no ano passado, que postergou a abertura de capital.

"O João fez a implantação do modelo de governança, preparando a empresa para abrir capital. Como mercado ficou ruim, a abertura foi adiada", disse, justificando a saída do executivo.