Título: Múcio será o indicado de Lula para o TCU
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2009, Política, p. A7

O ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, será indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a vaga de Marcos Villaça como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Lula está convencido que essa é uma saída melhor do que insistir no nome da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Erenice era apoiada pela ministra Dilma Rousseff, mas pressões de parlamentares e até de ex-ministros, como Walfrido dos Mares Guia, mostraram ao presidente que a secretária-executiva precisa ficar onde está. O argumento é que, sem Erenice, a Casa Civil travaria quando Dilma iniciasse para valer a campanha presidencial.

No início do ano, Múcio era considerado um "azarão" na disputa pela vaga de ministro do TCU. Contando com o apoio de Dilma e de parcela significativa do PT, Erenice Guerra era tida como imbatível. "Se ela fosse indicada, com certeza, seria um nome bastante forte. Mas ela desistiu", confirmou um líder aliado. A descoberta do câncer no sistema linfático e a consolidação de Dilma como candidata de Lula à presidência em 2010 reduziram as chances da secretária-executiva da Casa Civil.

Erenice é um nome chave na estrutura da pasta e responde por todos os assuntos durante as ausências da ministra. Também tem autonomia suficiente para debater com o presidente questões ligadas à Casa Civil. Até abril último, a cúpula governista resistia à possibilidade de Erenice não ser indicada. O temor era de que a admissão desta possibilidade jogasse dúvidas sobre as reais condições de saúde da ministra Dilma Rousseff.

Depois de uma sessão de quimioterapia, Dilma passou mal e teve que cancelar a agenda por três dias. O governo passou, então, a reavaliar as possibilidades. Após o diagnóstico médico de que a doença de Dilma está sob controle - usaram o termo "curada", a situação mudou de patamar, mas a solução permanece a mesma. "Dilma, aos poucos, vai se expor mais, se apresentar mais. E em abril do ano que vem terá que se desincompatibilizar. Erenice se convenceu de que é melhor ficar onde está", resumiu um auxiliar do presidente.

A secretária executiva da Casa Civil não chegou a dizer isto ao presidente, mas Lula já tomou conhecimento da nova situação. Apesar de alguns petistas ainda acharem que Dilma pode insistir na candidatura de Erenice ao TCU, integrantes do governo admitem que a ministra já jogou a toalha, até para ter mais tranquilidade e consolidar sua candidatura.

Como é próprio de seu estilo, Lula ainda não conversou oficialmente com Múcio sobre o assunto. Ainda não há razão para pressa. Villaça aposentou-se na sexta-feira, mas um auditor concursado do TCU poderá agir como ministro-substituto enquanto os trâmites legais não forem cumpridos. Múcio precisa ser sabatinado e aprovado pelo Senado Federal, segundo a Constituição Federal. Com o recesso do Congresso em julho e a crise política instaurada no Senado, todos estes prazos ainda são uma incógnita.

Pessoas próximas ao ministro Múcio confirmam que, nos últimos meses, ele intensificou a campanha para tornar-se ministro do Tribunal de Contas da União. Múcio começou a pensar com mais carinho na proposta após os recentes desgastes que sofreu, iniciados durante a eleição para a Mesa Diretora do Senado e cristalizados após a demissão de funcionários da Infraero indicados pelo PMDB.

O desgaste, contudo, não é privilégio de Múcio. Tanto que ele é o ministro que mais tempo permaneceu no cargo, desde que este foi criado em 2004. Em novembro, completará dois anos. Pela mesma vaga já passaram Aldo Rebelo (PCdoB-SP); Jaques Wagner (PT-BA); Tarso Genro (PT-RS); e Walfrido dos Mares Guia (PTB-MG).

Um ex-coordenador político costuma brincar que a pasta é pressionada pelo que não pode entregar: as emendas do orçamento são liberadas pelo Ministério do Planejamento e as indicações políticas são autorizadas pelos diversos ministérios. "Mas bater na porta da Secretaria de Relações Institucionais é mais fácil do que peregrinar pela Esplanada", completou.

Lula terá pela frente outro problema, que é a substituição de Múcio. O PT sempre considerou que esta vaga lhe pertence, por direito, embora o presidente não comungue da mesma ideia. Sabe que seu partido tem dificuldades para agregar com os aliados, e Lula precisa da base coesa para apoiar Dilma. "Esta escolha é um jogo de alto risco. Terá que ser alguém que faça o jogo do presidente, não de um partido da coalização", disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Alves até admite que um petista poderá ocupar esta vaga. Mas ressalva que o apoio dependerá de quem for o indicado. "Existem petistas e petistas", afirmou. Um petista com o perfil desejado por Alves é o ex-ministro da Fazenda, Antônio Palocci. "Ele é leal, sabe cumprir acordos, já foi do Executivo e é um parlamentar experiente", elogiou o líder pemedebista.

Um ministro com livre trânsito junto ao presidente duvida que Lula vá convidar Palocci para o cargo. O petista também é a opção sonhada pelo presidente para o governo de São Paulo em 2010, caso seja inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Palocci, por sua vez, não descarta nenhuma das opções. "Lula também não deve indicar um nome forte que venha a se desincompatibilizar em abril do ano que vem, forçando uma nova mudança. Em 2010, o Congresso entra em agenda eleitoral e o cargo de coordenação política perderá vitalidade", afirmou.