Título: Lulismo é o desafio do PSDB no NE
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2009, Especial, p. A12

Depois de naufragar eleitoralmente no Nordeste, em 2006, o PSDB está apreensivo com o crescimento, na região, das intenções de voto da pré-candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff, e os tucanos preparam o contra-ataque na região que é considerada a mais "lulista" do pais - e cujo eleitorado é, numericamente, pouco superior ao do Estado de São Paulo.

A direção do PSDB prepara ações e discursos para problemas e peculiaridades dos Estados nordestinos, diz o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). Está prevista a realização de seminários sobre programas sociais em cidades do interio. É uma tentativa de levar o recado da oposição à população, enquanto o candidato do PSDB não é definido. Sem contraponto, Dilma ganha apoio por causa do empenho pessoal de Lula e da organização do PT.

Semana passada, o ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia (DEM) divulgou, em blog, pesquisa (GPP-Brasil) que mostra Dilma à frente de Serra na região (vantagem de três pontos percentuais), em disputa sem o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). Serra mantém líder nacional.

" O PSDB deveria decidir o nome, sinalizar para a população que tem candidato, e montar um plano estratégico. O Nordeste precisa de mais atenção " , diz o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Para ele, a oposição precisa, já no segundo semestre, " se debruçar da Bahia até o Maranhão " para analisar circunstâncias e perfil de cada Estado.

" Lula, com popularidade altíssima, está andando com Dilma desde janeiro, ao arrepio da lei, numa afronta à Justiça Eleitoral. Num eleitorado como o do Nordeste, sensível a políticas assistencialistas, ela cresce " , afirma Jarbas, que sofre pressão para candidatar-se a governador, assegurando palanque forte para a oposição.

Com dificuldade de reeditar uma aliança em Pernambuco entre PMDB, PSDB e DEM, ele critica a " desorganização " da oposição no Estado, adia a decisão para 2010 e diz que não disputará sem condições de competitividade. " Não tenho mais idade para isso. Não há apelo que me faça disputar uma eleição só para preencher uma lacuna, dar condições a quem quer que seja " , afirma Jarbas, governador por duas vezes.

O senador tucano Tasso Jereissati (CE), também pressionado a concorrer ao governo para dar suporte à campanha nacional, rejeita a ideia. Ele recusa tentar o governo pela quarta vez e diz que a oposição não pode priorizar apenas a campanha presidencial. " A estratégia tem que ser abrangente. Não pode ser só para presidente e esquecer o resto. A oposição precisa de bancada forte no Congresso. " Tasso defende " cuidado especial e foco muito específico dos candidatos para o Nordeste " . Lembra que Lula teve " vitória esmagadora " na região em 2006, enquanto o tucano Geraldo Alckmin ganhou no Sul e Sudeste.

A costura de alianças políticas que garantam palanques exclusivos ao presidenciável da oposição, prioridade do PSDB, é estratégia considerada importante pela base do partido no Nordeste, mas insuficiente para ganhar voto. A escolha local nem sempre tem coerência com a nacional. O eleitor, beneficiado pelo Bolsa-Família ou outro programa social, precisa ser convencido das vantagens de votar na oposição para presidente. Pesquisas mostram que o discurso tem que ser pela manutenção do Bolsa-Família e geração de emprego, principalmente.

A formalização da aliança entre PSDB e DEM da Bahia, em 15 de junho, é emblemática da estratégia dos tucanos até agora. Pragmática, a decisão teve aval de Serra. Por rejeitar a aliança, o deputado estadual Marcelo Nilo, presidente da Assembléia Legislativa do Estado, saiu do PSDB e mantém apoio ao governador Jaques Wagner (PT). Na base do PSDB no interior também há insatisfeitos.

Com pouca penetração política no Nordeste, o PSDB conta, principalmente, com a base do DEM para montar palanques. Na Bahia, o candidato a governador da aliança é o ex-governador Paulo Souto (DEM). Há negociações com o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Regional), do PMDB. Geddel adia a decisão e diz ser candidato a governador. Conversa com o PT também. Com pressa de garantir palanque exclusivo, o PSDB consolidou a aliança com Souto, deixando portas abertas para Geddel. A opção pelo " carlismo " , em vez do PMDB, que daria mais consistência eleitoral e tempo de televisão, é vista com reservas por aliados.

Em Pernambuco e no Ceará - segundo e terceiromaiores colégios, respectivamente - o processo está atrasado. Como em toda a região, exceto Alagoas, governada por Teotonio Vilela (PSDB), os três Estados têm no governo aliados de Lula, que disputarão a reeleição em 2010. A primeira dificuldade da oposição é ter fortes concorrentes. Tasso e Jarbas, são considerados os únicos com viabilidade eleitoral em seus Estados. Sem eles, não há plano B por enquanto, para enfrentar os governadores Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, e Cid Gomes (PSB), do Ceará. A situação de Tasso é mais delicada. Enquanto Jarbas tem mais quatro anos de mandato no Senado, o do tucano termina em 2010 e ele prefere disputar a reeleição.