Título: Instituições brasileiras abrem espaço no private banking
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2009, Finanças, p. E3

Duas das maiores consultorias do mundo acabam de divulgar pesquisas que indicam a crescente importância das instituições financeiras brasileiras no mundo da administração de grandes fortunas, um universo que envolve mais de US$ 1 trilhão.

Os private bankings brasileiros ganharam mercado com a crise internacional e tendem a manter os novos recursos conquistados, prevê João dos Santos, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), cuja pesquisa tem como foco descobrir as principais preocupações atuais dos administradores de fortunas, a partir da entrevista de gestores de 238 instituições financeiras em 40 países.

À margem de escândalos como o caso Madoff, que atingiram muitas instituições estrangeiras, e mostrando boas condições de liquidez e solidez, os private bankings ligados a conglomerados brasileiros atraíram novos clientes. "Houve uma dança das cadeiras. Investidores migraram de instituições afetadas para private brasileiros, considerados um porto seguro", disse Santos.

As perdas registradas pelas carteiras foram mais consequência do movimento global de queda dos preços dos ativos do que de investimentos exóticos.

Outra boa notícia foi levantada pela KPMG: em pesquisa junto a 100 executivos seniores da área, em 17 países, houve nove menções ao Brasil como mercado de maior potencial de crescimento para o private banking. É um número superior ao de referências recebidas pela Rússia (8), Reino Unido (7), Cingapura (6) e Itália (5), igualando-se às dos Estados Unidos. Só tiveram mais menções a Índia (31) e a China (49).

Ricardo Anhesini, sócio-líder de serviços financeiros da KPMG, atribuiu a boa posição do Brasil à mobilidade social e ao potencial de crescimento econômico.

A pesquisa da KPMG é anual (não foi feita apenas em 2008, devido à crise financeira) e foca as tendências de consolidação na área de private banking. O levantamento deste ano indicou uma redução no "apetite" de consolidação na área de administração de fortunas, ressaltou Anhesini. De fato, em pesquisa anterior, feita em 2006, 84% dos participantes previam uma consolidação adicional do setor nos três anos seguintes. Em 2007, o percentual caiu para 81%; e, neste ano, recuou para 72%.

Anhesini explicou a redução do percentual pela queda das margens do negócio e pela redução do valor das instituições.

Segundo a KPMG, a redução de margens é consequência da desvalorização de ativos e queda dos rendimentos, além de uma base de custos alta. Muitos bancos acreditam ser difícil melhorar substancialmente suas margens de lucro no curto prazo.

Além disso, potenciais compradores estão preferindo "esperar para ver" enquanto os vendedores relutam em aceitar as atuais baixas avaliações.

Por esses motivos, uma das conclusões da pesquisa da KPMG é que o crescimento orgânico do setor de private banking continuará sendo uma prioridade.

Dos entrevistados, 36% acreditam que a totalidade de seu crescimento nos próximos dois anos será gerada organicamente. Outros 36% preveem que o crescimento orgânico responderá por três quartos de seu crescimento, sendo o restante promovido por aquisições. As taxas de resposta são ainda mais altas entre os bancos de menor porte.

A KPMG também registrou um menor otimismo em relação às perspectivas de crescimento dos negócios de private banking. Nas pesquisas de 2006 e de 2007, mais de 90% dos participantes estavam otimistas quanto à previsão de crescimento. Já este ano, esse porcentual encolheu para 53%. Apesar disso, apenas 14% acreditam que a perspectiva de crescimento não seja nada boa; enquanto o restante permanece indiferente.

"Os resultados reforçam o que estamos observando no mercado, que o setor de private banking não foi tão duramente afetado pela crise de crédito como talvez se imaginasse. Sem dúvida, o otimismo quanto à perspectiva de crescimento diminuiu, mas não é definitivo. O desejo de promover a consolidação do setor permanece. O que parece faltar são os meios e oportunidade para tanto. E enquanto isso, a alternativa sensata é se concentrar no crescimento orgânico", disse Anhesini.

A pesquisa da PwC também captou a preocupação com dos executivos do setor com a questão dos custos. "O ano de 2009 promete ser estável em comissões", disse Santos. A curto prazo, acrescentou, o cenário não promete recomposição de taxas. Por isso, os administradores de fortunas estão preocupados em rever a estrutura para melhorar os custos. Cerca de 60% dos custos dos administradores de fortuna vêm das despesas com pessoal.

Por isso, um dos pontos mencionados na pesquisa é a necessidade de revisão das regras de remuneração. "Não será uma política de passar o facão", disse Santos, "mas sim de gestão efetiva dos custos".

Faz parte da nova política relacionar remuneração a conceitos como risco e compliance. A crise deu destaque a questões como venda de produtos adequados e cumprimento de normas.