Título: Para especialista, vizinhos deverão manter restrições
Autor: Watanabe,Marta ; Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2009, Brasil, p. A3
O governo argentino dificilmente vai dar marcha a ré nas medidas de contenção de produtos importados tomadas a partir de novembro de 2008, como resposta à crise internacional. A opinião é do economista e ex-secretário de Indústria, Dante Sica, sócio diretor da consultoria Abeceb.com. Com o argumento de defender a indústria nacional contra a concorrência desleal de produtos importados, o governo argentino já abriu 609 medidas que de uma forma ou outra demoram ou impedem a entrada de mercadoria importada, segundo a Abeceb.
São licenças não automáticas, antidumping, compromissos de preços mínimos e acordos de restrição voluntária de exportações que, no total, afetaram US$ 6,632 bilhões, ou 11,4% da pauta de importações do país. O Brasil foi afetado em 14% da pauta e a China em 20%, e apesar disso, a China vem tirando espaços do Brasil no mercado argentino.
Perguntado sobre as medidas em discussão no governo brasileiro para responder à onda protecionista argentina, conforme publicou o Valor em sua edição de ontem, Sica avaliou que a única chance de o governo flexibilizar as medidas tomadas até agora é se houvesse uma troca de ministros do gabinete da presidente Cristina Kirchner. Essa possibilidade vinha sendo levantada há algumas semanas, quando as pesquisas de intenção de voto indicavam que o governo perderia a maioria na Câmara e no Senado.
No entanto, Cristina afirmou, depois de confirmada a derrota nas eleições, que não vê motivos para mudar ministros nem os rumos de seu governo. "Talvez, como resposta a uma pressão do Brasil, o governo possa, no máximo, melhorar a gestão administrativa das medidas", disse Sica, referindo-se à agilização da análise, nas aduanas, dos produtos sujeitos a licenciamento não automático. Uma das grandes queixas dos brasileiros é que as aduanas argentinas atrasam a análise dos produtos mais tempo que o permitido pela Organização Mundial do Comércio.