Título: PF conclui investigação sem identificar grampo no Supremo
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2009, Política, p. A6
A Polícia Federal concluiu as investigações sobre a suposta gravação de conversa telefônica entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), mas não encontrou provas de grampo, segundo noticiou ontem a "Folha de S. Paulo". Rômulo Berredo e William Morado, os delegados encarregados do caso há dez meses, não encontraram o áudio da suposta gravação e, portanto, não conseguiram identificar o responsável pelo grampo de uma conversa de Mendes com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
O resultado oficial da investigação deve ser divulgado nos próximos dias. Berredo e Morad, segundo a Folha, teriam afirmado, no inquérito, que, como não foi encontrada a suposta gravação, não houve crime. Desde que comandou a Operação Satiagraha, que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas em julho do ano passado, o delegado Protógenes Queiroz e agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) vinham sendo apontados como supostos autores de grampos irregulares em Brasília. Como nada foi descoberto no caso do STF, Protógenes e os funcionários da (Abin) que participaram da Satiagraha não podem ser indiciados nesse caso.
Quando a revista Veja divulgou a conversa telefônica entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres, o presidente do STF pressionou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demitir o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, acusado de dar apoio a supostos grampos ilegais feitos pela Operação Satigraha. Mendes também pressionou Lula a ordenar a abertura do inquérito sobre o suposto grampo, o que acabou acontecendo em setembro, com a nomeação de Berredo e Morad para o caso.
Paulo Lacerda, da Abin, acabou afastado do cargo e hoje é adido policial na embaixada do Brasil em Lisboa. Segundo a Folha de S. Paulo, os delegados Berredo e Morad afirmam, no relatório sobre o suposto grampo no STF, que o sistema brasileiro de telefonia é muito vulnerável a interceptações ilegais. Ainda assim, segundo a investigação, o sistema telefônico do STF é menos vulnerável que o do Senado. Os dois sistemas bem, como os de companhias telefônicas, teriam passado por perícia conduzida pela Polícia Federal.
Seis meses depois de aberto o inquérito, Gilmar Mendes admitiu a possibilidade, durante sabatina na "Folha de S. Paulo", de o grampo nunca ter existido. Reconheceu também não ter certeza sobre a participação da Abin no caso.