Título: PSDB quer levar Senado no tapetão, diz Lula
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2009, Política, p. A7

O PT sugeriu ontem ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que ele se afaste do cargo por um mês, para apuração de denúncias. O partido, entretanto, não deverá pressioná-lo para que se licencie, como fizeram DEM, PSDB e PDT. Com vistas à manutenção da aliança com o PMDB para as eleições de 2010, a decisão do PT é uma concessão e poderá recuar ainda mais e manter-se ao lado do pemedebista. O presidente do Senado afirmou que definiria seu "futuro político" em conversa com Lula, que só retornaria de viagem à África às 22h30 de ontem. O PT também pediu audiência com o presidente para definir posição.

Preocupado em garantir o PMDB na sustentação da candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em 2010, Lula sinalizou que se manterá ao lado de Sarney. Ontem, em Sirte, na Líbia, o presidente recorreu a uma metáfora futebolística para voltar a defender sua permanência. Lula disse que o PSDB quer ganhar a presidência do Senado "no tapetão". Se Sarney se afastar do cargo, a oposição ocupa a cadeira com o tucano Marconi Perillo (GO), primeiro vice. "O DEM e PSDB querem que o Sarney se afaste para o Marconi Perillo (senador pelo PSDB-GO e primeiro vice-presidente do Senado) assumir, o que não é nenhuma vantagem para ninguém", afirmou. "A única vantagem é para o Marconi Perillo e para o PSDB, que querem ganhar o Senado no tapetão. Assim não é possível. Isso não faz parte do jogo democrático".

Na terça-feira, Lula mandou recado a Sarney e pediu a Dilma que convencesse o pemedebista a não tomar decisão sem antes conversar com o presidente. Os rumores de que Sarney renunciaria eram fortes a e família dele teria pedido para renunciar.

Para não romper com o PMDB, os petistas tiveram cuidado na forma com que propuseram o afastamento: líderes partidários foram à casa dele comunicar a decisão, diferente do PSDB, DEM e PDT, que oficializaram no plenário. "Não manifestamos como exigência política", disse o senador Aloysio Mercadante, líder do PT no Senado. Ontem à noite os petistas voltaram à casa de Sarney, com a bancada do Senado. "Temos a responsabilidade de preservar a aliança", explicou Fátima Cleide (RO). "O PMDB não vai querer mais conversar com o PT se pedirmos a saída dele." Para Mercadante, "a relação no Senado reflete no governo".

O PT está se conduzindo com o máximo de cautela. Na manhã de ontem, o líder do partido Aloizio Mercadante e a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), foram à casa do pemedebista para sugerir que ele se afaste temporiamente, como aprovara a bancada. A sugestão foi rejeitada. Os petistas propuseram também uma comissão "capaz de pensar o futuro do Senado", com a adoção de uma Lei de Responsabilidade Administrativa e Fiscal. Sarney disse "estar aberto" à comissão.

A bancada do PT vive uma contradição: a maioria quer o afastamento de Sarney. Nove dos doze senadores disputarão um novo mandato em 2010 e temem desgastar-se com o eleitorado ao defender o pemedebista. Ao mesmo tempo, defendem a aliança com o PMDB para reforçar a candidatura de Dilma à Presidência e para garantir a governabilidade no Senado, onde o governo tem dificuldade para obter maioria.

O PT não queria a eleição de Sarney e aproximou-se do PSDB para sustentar a candidatura do petista Tião Viana (AC). Aliados de Sarney atribuem denúncias contra o presidente da Casa a setores do PT ligados a Viana e a alas do PSDB próximas ao governador José Serra (SP), que seriam fontes da divulgação de irregularidades que, no entanto, têm sido comprovadas. A configuração política do Senado durante os quatro meses de gestão de Sarney mostrou-se diferente da nacional: o DEM era o principal aliado do PMDB e o PT teve o apoio do PSDB em votações.

Com o desenrolar da crise envolvendo Sarney, petistas e pemedebistas começam à retornar à configuração anterior da aliança. O DEM afastou-se do presidente da Casa, aliando-se ao PSDB no pedido pelo afastamento imediato de Sarney do cargo, com duras críticas à atuação do senador. Já o PT reaproximou-se do PMDB. Na avaliação de Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos principais defensores de Sarney, "a única coisa boa da crise" é que ela aproximou PT do PMDB.

Na avaliação de senadores, a crise administrativa começou a ser sanada, com a demissão de diretores ligados ao ex-diretor Agaciel Maia e corte de despesas. Mas a crise política continua e é grave. PT saiu em ataque ao DEM e disse que a primeira-secretaria, ocupada há anos pelo DEM, deveria ser responsabilizada junto com Sarney. PSDB, DEM, PDT e P-Sol mantiveram a pressão pelo afastamento do pemedebista.

Se Sarney renunciar, uma nova eleição terá se ser feita. Não há nomes de consenso ainda entre as principais bancadas. "Teria que ser alguém com perfil parecido com de Jesus", brincou o líder do DEM, Agripino Maia (RN). Senadores cogitam a indicação de Tião Viana (PT-AC), derrotado na disputa com Sarney, e Pedro Simon (PMDB-RS), que se recusou a ser candidato no começo do ano. O senador Romero Jucá (PMDB) é um nome do partido do atual presidente sempre citado.

O presidente da Casa fez novo aceno aos senadores, em busca de apoio: enviou carta para "deixar transparente as ações e atos editados" pelo Senado, "com ênfase na economia de recursos financeiros, na substituição de diretores e na apuração dos fatos". Ontem, não quis manifestar-se. O pemedebista presidiu sessão em homenagem ao ex-deputado federal José Aristodemo Pinotti (DEM-SP), que faleceu. Em sessões desse tipo, os parlamentares só podem se manifestar sobre o homenageado. José Nery (P-Sol-PA) reclamou da crise , mas logo foi interrompido por Heráclito Fortes (DEM-PI) e por Sarney. "Ficaria mal ao Senado e às tradições da Casa discutir outros assuntos", disse Sarney.

Acabei de falar com a Marina Silva e com o Eduardo Suplicy sobre a reunião agora de noite na casa do Sarney e eles disseram que não houve recuo na posição do PT. Eles mantém a defesa de que o pemedebista se afaste do cargo. Segundo Marina, cada senador explicou pessoalmente sua posição ao presidente do Senado. Só que o líder do partido, Aloizio Mercadante, amenizou e disse, na porta da casa de Sarney, "A renúncia não está no âmbito das possibilidades. Não parece uma solução adequada. A crise do Senado não pode ser debitada na conta de Sarney".

Numa clara demonstração de discordância da posição do PT no Senado, o líder da bancada petista na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), defendeu sua permanência no cargo. Acompanhado do deputado Marco Maia (PT-RS), primeiro vice-presidente da Câmara, e outros deputados petistas, Vaccarezza foi ao gabinete de Sarney. "Fui como líder, prestar solidariedade. E dizer que reconhecemos que ele não obstrui investigação. Ao contrário: tem solicitado investigação de todos os casos", disse Vaccarezza.(Colaborou Raquel Ulhôa, de Brasília)