Título: Costura complicada
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 29/01/2010, Política, p. 6

PDT formaliza apoio à candidatura de Dilma Rousseff, mas reforça cobrança em cima do PT por palanques regionais. O problema dos petistas agora será conciliar os interesses conflitantes dos pedetistas com os de outro aliado, o PMDB

Brizola Neto e Carlos Lupi chegam para o almoço com Dilma Rousseff: cardápio indigesto para o PT

A fatura apresentada pelo PDT ontem, em almoço de confraternização com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, cobra apoio do PT em quatro estados, colocando mais um ingrediente de dificuldade na já complicada aliança eleitoral entre petistas e o PMDB. A reivindicação dos pedetistas é por tratamento igual em estados onde há candidatos dos dois lados, sem preferência a nenhum aliado, e até a primazia de negociação, deixando os interesses peemedebistas de lado. Em troca, prometem esforços para tornar a eleição de outubro uma disputa entre PT e PSDB. ¿Temos que fazer dessa eleição um plebiscito. Temos que saber quem é contra e quem é a favor da continuidade do governo Lula¿, disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT.

Mas antes é preciso que os aliados acertem seus ponteiros em quatro estados. No Paraná, o candidato ao governo é o senador Osmar Dias (PDT) e, ao Senado, Gleisi Hoffmann (PT), mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Os pedetistas querem fechar um acordo que ignore os interesses do atual governador, Roberto Requião (PMDB). Dilma disse, no almoço, segundo relato de dois participantes, que ainda não é possível atender ao pedido do PDT e passar por cima de Requião.

O governador paranaense quer Gleisi como vice de Osmar Dias. Hoje, Requião é pré-candidato ao Palácio do Planalto, numa jogada considerada mero balão de ensaio, uma vez que seu desejo é se candidatar ao Senado sem concorrência. Essa costura, entretanto, ainda depende de muitas conversas. A negociação continuará entre os partidos. Na próxima semana, está marcada uma nova reunião entre os secretários-gerais de PT e PDT.

No Maranhão, o PT deverá fechar apoio à governadora Roseana Sarney (PMDB), mas o PDT não quer Dilma só no palanque da peemedebista. Os pedetistas lançarão o ex-governador Jackson Lago, que, cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deu lugar à Roseana. ¿Se a ministra subir no palanque da Roseana, vai ter que subir no nosso também¿, sublinhou Dagoberto Nogueira (MS), líder do PDT na Câmara. ¿A governadora golpista não pode ter tratamento privilegiado¿, afirmou o deputado Brizola Neto (PDT-RJ), que também esteve no almoço.

Apoio formalizado A reunião em Brasília serviu para formalizar o apoio do PDT a Dilma e traçar um cenário dos 27 estados. O Paraná e o Maranhão são as duas principais apostas do PDT. Nas outras regiões, a estratégia é a composição de alianças para a manutenção de cadeiras já conquistadas nos legislativos estaduais e federal. Uma das preocupações é com o Rio de Janeiro. Os pedetistas cobraram uma ação do PT para evitar que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) leve o apoio dos eleitores progressistas do Rio de Janeiro. Na visão de Brizola Neto, os dois candidatos da base apresentados até agora, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) e o governador Sérgio Cabral (PMDB), não atraem o eleitor identificado com Gabeira.

Para tentar conter o avanço de Gabeira, os pedetistas querem que o PT tente enquadrar Sérgio Cabral a assumir compromissos sociais, visando cooptar potenciais eleitores do deputado verde. Em Mato Grosso do Sul, a aliança é para enfraquecer o governador André Puccinelli (PMDB), que tentará a reeleição.

Se a ministra (Dilma) subir no palanque da Roseana (Sarney), vai ter que subir no nosso também¿

Deputado Dagoberto Nogueira (MS), líder do PDT na Câmara

Pressão interna

Ricardo Brito

Não bastasse o jogo de morde e assopra diário com os petistas para compor a chapa presidencial, a ala do PMDB ligada ao presidente da Câmara, Michel Temer (SP), terá de conviver até 6 de fevereiro com uma ameaça. Cumprem o acordo e adiam o encontro que vai prorrogar em mais dois anos o mandato de Temer à frente do partido ou terão de resolver a questão na Justiça. Anteontem, o grupo dele decidiu, em encontro da Executiva Nacional, adiantar em um mês o calendário para bater o martelo da reeleição partidária do presidente da Câmara. O movimento visa a fortalecer o nome de Temer nas negociações para vice da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

¿Temos uma posição bem definida: somos contrários à antecipação por vermos nisso um golpe¿, afirmou Waldir Pugliesi, presidente do PMDB do Paraná e deputado estadual. Apesar da decisão de quarta-feira, Pugliesi espera que, nos próximos dias, o grupo de Temer recue. Ele se fia na palavra empenhada pelo próprio presidente da Câmara ao ex-governador e presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia, de que não via problemas em manter a data inicial. ¿Se for o caso, nós entraremos na Justiça para transferirmos a convenção para março¿, avisa Pugliesi, lembrando que Temer ¿sinalizou com essa possibilidade¿.

O PMDB paranaense, com os diretórios paulista e catarinense, ameaça recorrer à Justiça se a antecipação for levada a cabo. O partido no Paraná, aliás, é o maior defensor entre as representações estaduais da candidatura própria do partido à Presidência. Embora queiram escolher oficialmente um nome na convenção(1) partidária prevista para junho, o principal postulante é o governador Roberto Requião. Por essa razão, não lhes interessa reforçar a posição de Temer, presidente do partido desde 2001 e licenciado há 11 meses do cargo, na chapa PT-PMDB. ¿Ser vice para quê?¿, questiona Pugliesi.

Ainda que também defendam um nome do PMDB para disputar o Palácio do Planalto, o diretório gaúcho não se opõe ao adiamento do encontro. ¿Não faz diferença mudar a data¿, afirmou o deputado Eliseu Padilha, secretário-geral do PMDB no estado. ¿A reunião vai tratar apenas da eleição do novo diretório do partido, ninguém vai tratar de aliança com quem quer que seja¿, ponderou.

1 - Exigência legal Por uma exigência da Lei Eleitoral (nº 9.504/97), todos os partidos precisam aprovar os nomes dos candidatos em convenções partidárias. Elas devem ser realizadas entre 10 e 30 de junho do ano em que ocorrem as eleições. A lei garante até mesmo a gratuidade do uso de prédios públicos para a realização dos encontros.

A aliança PT-PDT

Para sair do papel o apoio do PDT à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é preciso fechar acordo em quatro estados. Veja quais:

Paraná O PDT cobra dos petistas apoio ao senador Osmar Dias em sua corrida pelo governo estadual. O acordo depende de um acerto com o atual governador, Roberto Requião (PMDB).

Maranhão Os pedetistas querem apoio da ministra Dilma Rousseff ao ex-governador Jackson Lago, para evitar que ela peça votos somente à governadora Roseana Sarney (PMDB).

Mato Grosso do Sul Os dois partidos estão unidos para enfrentar o governador André Puccinelli (PMDB). O PDT terá uma vaga ao Senado, para Dagoberto Nogueira. A disputa pelo governo será do ex-governador Zeca do PT.

Rio de Janeiro Os pedetistas querem que o PT ajude a enquadrar o governador Sérgio Cabral (PMDB) para propor uma agenda progressista ao estado. O temor é o crescimento da candidatura de Fernando Gabeira (PV).