Título: Brasil pedirá que países do G-8 mantenham gastos
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2009, Internacional, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrará dos países desenvolvidos, na cúpula com o G-8 esta semana em Áquila, na Itália, que implementem de fato todas as medidas que prometeram para acelerar a retomada da combalida economia mundial. "A mensagem é que o essencial é a recuperação da economia para reabrir um ciclo de crescimento", disse ao Valor Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente Lula.

Alguns países desenvolvidos consideram que a recuperação está à vista e já seria o momento de delinear uma estratégia de saída das ações de urgência, isto é, gasto público, que bloquearam uma queda maior na demanda mundial e nos mercados financeiros.

Mas o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, levará ao G-8 uma sombria mensagem de "sinais de alertas" de que a tímida recuperação está em perigo.

Brown teme que o encontro de abril dos lideres do G-20 em Londres não cimentou as mensagens de reforma econômica e de regulação dos mercados. E considera que o encontro desta semana em Áquila será um "segundo sinal de alerta para a economia mundial".

Uma das preocupações de Brown é com a nova elevação no preço do petróleo, principal matéria-prima mundial. Ele discutirá hoje com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, uma ideia francesa de se estabelecer um acordo de preço entre países produtores e consumidores para reduzir a volatilidade no preço do barril.

Já a Alemanha, onde a disciplina fiscal é uma religião, quer compromissos de redução das enormes dívidas que tem sido acumuladas no rastro de programas de estímulo.

Mas, em carta aos líderes do G-8, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alerta que não é hora de desacelerar os programas de estímulo, corroborando o temor de Brown de que os recentes ganhos "podem ser revertidos facilmente, e o ritmo da recuperação em 2010 está longo de ser certo".

Para Zoelick, se os ricos derem marcha a ré nos programas de estimulo, vão deixar "os mais fracos [países em desenvolvimento] na casa queimada". O prêmio Nobel da Economia, Paul Krugman, insiste por sua vez que os programas de estimulo nos EUA não têm sido agressivos o suficiente para produzir uma completa recuperação economia e outra rodada de estímulo é difícil "mas essencial".

Lula cobrará dos países do G-8 eficácia maior também nas medidas já decididas e "que estão pouco fluidas", como fim de paraísos fiscais, políticas anticíclicas etc. Quer também a certeza de respeito a um cronograma para reformar instituições como o FMI e o Banco Mundial e dar mais voz e representatividade aos emergentes. Lula deixará claro sua visão de que o G-8 está superado e que as grandes questões econômicas globais devem ser transferidas de vez para o G-20.

Giampiero Massolo, principal assessor do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi para o G-8, retruca que o "G-8 não só não está morto como inaugura em Áquila uma nova relação estável e estruturada com as grandes economias emergentes", algo que para o Brasil hoje é insuficiente.

A expectativa em Roma é que o G-8 e os principais emergentes assinem uma declaração conjunta sobre um novo modelo de crescimento, que evite os ciclos de bolha e crise. Será dado destaque ao chamado "crescimento verde". Países industrializados propõem que, para alcançar uma recuperação economica harmonizada com proteção ambiental, seja adotada tarifa de importação para produtos ambientalmente incorretos.

Outra batalha será sobre a redução de emissões, para descarbonizar as economias. A União Europeia vem defendendo que os emergentes, como o Brasil, reduzam a "tendencia de crescimento" das emissões entre 15% e 30%.

Marco Aurélio Garcia disse que o Brasil assumirá suas responsabilidades, diferenciadas das dos ricos, mas evitando que sejam um "freio no crescimento economico". O Itamaraty informou que o texto em negociação prevê até agora que os países ricos assumam a liderança na redução de emissões de gases de efeito-estufa. O Brasil defende que os os países desenvolvidos reduzam em 45% suas emissões até 2050.

O que não vai faltar no G-8 é anúncio de boas intenções. Uma delas, impulsionada pelos EUA, será a "Iniciativa sobre Segurança Alimentar", pela qual os países ricos se comprometem com mais de US$ 12 bilhões para o desenvolvimento da agricultura nos países pobres nos próximos três anos.

EUA e Japão fornecem o grosso dos recursos, entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, e o resto vem da União Europeia. Mas funcionários da ONU dizem que parte do dinheiro é de anúncios já feitos. No ano passado o mesmo G-8 já tinha feito uma promessa de US$ 10 bilhões e só liberou a metade, segundo ONGs. (Com o Financial Times)