Título: Para projetista alemão, desafio brasileiro é criar e manter infraestrutura adequada
Autor: Watanabe, Marta
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2009, Especial, p. A12

Na Espanha, na Alemanha, no Japão e em outros países, trens de alta velocidade estão fazendo com que pontes aéreas entre grandes cidades se tornem obsoletas. E é isso o que poderá ocorrer entre São Paulo e Rio se o projeto do trem rápido brasileiro se concretizar.

"Ninguém vai querer usar avião. O trem tem muito mais conforto, é mais pontual e oferece uma viagem com mais qualidade e são mais seguros. A segunda classe do trem é bem melhor que a econômica dos aviões", diz um dos mais importantes designers de trens de alta velocidade pelo mundo, o alemão Alexander Neumeister. "Os trens são sempre algo muito sedutor."

Responsável pelo design externo e interno de trens balas como o ICE, da Alemanha, o Nozomi 500, do Japão e o AVE S103, da Espanha, Neumeister diz que além da praticidade, trens rápidos entre metrópoles têm um apelo ambiental crucial. "Esse é o melhor momento para se fazer trens. Estamos chegando a uma situação, talvez ainda não no Brasil, que a história [do consumo e da poluição gerados] dos combustíveis fósseis está tornando algo sério. E os trens dependem de energia elétrica, menos poluente e mais flexível."

Sobre o projeto brasileiro, Neumeister diz não ter muitos detalhes. A empresa que opera o ICE alemão, a Deutsche Bahn, é uma das interessadas em disputar o projeto brasileiro.

Mas com 40 anos de experiência projetando trens, este alemão de 67 anos - que vive metade do ano em Munique e metade, no Rio, no bairro da Urca - diz que o maior desafio para o Brasil não é tanto adquirir um trem de alta velocidade. O desafio central é criar e manter uma infraestrutura apropriada. "Um trem de alta velocidade precisa de uma infraestrutura perfeita. Entre São Paulo e Rio talvez precise de túneis para vencer a topografia e de trilhos muito bem mantidos." É preciso também, continua ele, de um sistema de controle e segurança, em particular em áreas com moradias próximas.

Segundo ele, os países com mais conhecimento em produção e operação de trens rápidos são Alemanha, Japão e França.

Sobre as características estéticas dos trens de alta velocidade, Neumeister diz que geralmente há demandas particulares em cada país que adota esse tipo de transporte. "É impressionante como os trens mexem com o ego nacional. Um dos desafios que o designer tem e terá no Brasil é criar ou adaptar um trem que as pessoas digam com orgulho "esse é um trem brasileiro"".