Título: Redução demora a chegar ao crédito
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2009, Finanças, p. C1

Mesmo com a recente queda da Selic para 9,25%, que derrubou o juro real brasileiro para um patamar inferior a 5%, as taxas bancárias ainda não refletiram toda essa redução, afirma o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. "A queda do juro real não chegou ao crédito bancário, que é o que importa para a economia. O crédito continua tão caro quanto antes".

Agora, disse ele, à medida que as empresas voltem a acessar o mercado externo para captar recursos, como a Petrobras fez na semana passada, os bancos passarão por um processo de arbitragem que deve derrubar o juro também no setor bancário. Essa relação, segundo ele, é muito importante, pois o crédito hoje já tem um patamar que se aproxima de níveis comparáveis internacionalmente. Segundo dados do Banco Central, a relação crédito versus PIB atingiu 43% no mês de maio.

Ele citou o exemplo do mercado de veículos, que bateu recordes de vendas mesmo em meio à crise. O setor registrou crescimento de 3% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, recorde histórico. Esse desempenho só foi possível por conta dos empréstimos que continuaram fluindo nesse segmento com taxas em queda. "Falta agora que essa melhora chegue também ao segmento de médias empresas".

Desde o agravamento da crise, em setembro de 2008, os bancos brasileiros se retraíram tentando preservar a liquidez. Com isso, os empréstimos se tornaram mais caros e escassos. Os tomadores também reduziram a demanda e somente nos últimos meses as instituições retomaram as atividades de forma mais efetiva, mas com a seletividade ainda elevada.

Rogério Oliveira, diretor de Pesquisa Quantitativa para Mercados Emergentes do Barclays, afirma que a queda do juro real só tende a favorecer economia, especialmente os investimentos. "Os juros nos Brasil sempre foram muito altos. Estamos chegando ao fim de uma era".

Segundo ele, no entanto, o mercado brasileiro ainda trabalha com taxas acima dos níveis de outros países. Títulos do governo do México, por exemplo, atrelados à inflação, embutem taxas reais na casa dos 4%. O Chile já tem níveis inferiores a 3%. "Antes, a NTN-B pagava 8,5% de juro real. Agora está pagando 6,5%. Já reduziu bastante, mas ainda existe um "gap" em relação a esses países", afirmou.