Título: Banco Central zera posição em dólar futuro pela primeira vez desde 2002
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2009, Finanças, p. C2

O Banco Central zerou a sua posição de câmbio no mercado futuro de dólar pela primeira vez desde 2002, quando começou a operar com instrumentos derivativos. No dia 1º de julho, os créditos em dólar passaram a corresponder exatamente às posições passivas, depois que o Banco Central liquidou uma posição vendida de US$ 282 milhões nos chamados swaps cambiais reversos.

Em termos práticos, isso significa que o BC saiu do mercado futuro, que agora registra operações apenas de agentes privados. "O fato de sair do mercado não quer dizer que não possa voltar", afirma o diretor de política monetária do BC, Mário Torós. "Se necessário, o BC poderá voltar."

E o que determinará novas atuações da autoridade monetária? "Dependerá da natureza do fluxo a cada momento", afirma, sem precisar exatamente que tipo de fluxo poderá desencadear o regresso do BC no mercado. "Neste momento, o BC não vê necessidade voltar ao mercado."

Hoje, os investidores estrangeiros estão trazendo poucos dólares ao mercado futuro, apesar do início de recuperação verificado nos mercados financeiros, sobretudo acionário.

Alguns analista econômicos receavam que, a partir do início de março, quando a taxa de câmbio começou a se apreciar, pudesse haver uma enxurrada de investimentos estrangeiros por meio de derivativos, em busca dos juros relativamente altos vigentes no país. O fato é que, pelos números divulgados pela BM&F, os fluxos de investimentos estrangeiros estão estagnados. Uma das explicações para isso é que, apesar de o real ter recuperado parte do seu valor perante o dólar, ainda não se estabeleceu uma tendência clara para a taxa de câmbio. As semanas mais recentes tem sido de considerável volatilidade nas cotações.

A zeragem das posições cria uma oportunidade para fazer um balanço sobre a atuação do BC no mercado futuro. De 2002 para cá, a autoridade mais ganhou do que perdeu nesse mercado. Em termos líquidos, registrou um lucro contábil de R$ 7,2 bilhões no período, o que, corrigido pela Selic, representa hoje algo como R$ 11,3 bilhões.

O BC começou a vender dólares no mercado futuro em 2002, quando a moeda sofreu uma forte depreciação, em virtude das incertezas econômicas relacionadas à eleição do presidente Lula. Nessas operações, o BC ficou vendido em moeda estrangeira, o que equivale a dizer que tinha prejuízos quando a moeda nacional se depreciava. Nessa época, o BC chegou a registrar uma posição vendida de US$ 39,4 bilhões. Os swaps foram a forma encontrada pelo BC para fornecer proteção ao mercado contra a variação do dólar, sem gastar dólares das reservas. Antes dos swaps, isso era feito por meio da venda de títulos públicos atrelados à variação do câmbio.

Como o BC vendeu dólares no pico da desvalorização cambial de 2002, registrou lucros nos três anos seguidos, quando a taxa de câmbio passou a se valorizar. Em 2005, o BC passou a vender os chamados swaps cambiais reversos, em que na prática ficava comprado em dólares. Registrou prejuízos em 2006 e 2007, com a apreciação do real.

Na época, o BC justificou a atuação com o argumento de que acumulava dólares para reduzir a exposição cambial do país. A lógica de acumular dólares no mercado futuro era a mesma de, no mercado à vista, comprar moeda estrangeira para reforçar as reservas. No auge da sua posição no mercado futuro, o BC chegou a acumular US$ 23,4 bilhões, em junho de 2008.

Embora a atuação no mercado futuro tenha gerado lucros, o BC não gosta de ver sua estratégia avaliada apenas pelo aspecto financeiro. Os swaps, na visão do BC, ajudam a suavizar movimentos extremos na taxa de câmbio. E, mais recentemente, tal política ajudou a reforçar os fundamentos da economia brasileira.

Segundo esse raciocínio, o acúmulo de dólares, tanto no pronto como no futuro, mudou a dinâmica da dívida publica. Antes, desvalorizações cambiais levavam a aumento da dívida pública, que, por sua vez, criavam mais desconfianças dos investidores em relação o Brasil, pressionando do câmbio. Agora, desvalorizações cambiais levam à queda da dívida, melhorando a percepção do risco-país, reduzindo os custos de captação das empresas e do setor público e amortecendo impactos de choques externos sobre a economia.