Título: Impasse em Honduras pode gerar racha no continente
Autor: Moura , Marcos
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2009, Internacional, p. A11

A crise em Honduras ameaça provocar um racha no continente, caso o governo interino continue no poder até as eleições marcadas para 29 de novembro no país. E, por enquanto, não há sinais de solução à vista para o impasse.

Todos os governos da região estão unidos na condenação ao governo do presidente interino, Roberto Micheletti, visto como ilegítimo por ter assumido após um golpe militar, que prendeu e exilou o presidente Manuel Zelaya no fim de junho. A questão é qual será a reação em relação resultado das eleições, se elas forem realizadas pelo governo interino.

"O pior cenário será se o presidente Zelaya não voltar ao cargo até antes das eleições, porque isso levará alguns países da região a não reconhecerem o presidente eleito", disse ontem ao Valor um diplomata brasileiro que acompanha de perto a situação. "Esse seria o efeito colateral da permanência do governo Micheletti."

Para essa fonte, o argumento que deverá ser invocado por alguns países é que uma eleição não pode ser considerada livre, transparente e válida quando conduzida por um governo considerado ilegítimo. Esse também é o argumento defendido por Zelaya - um aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Venezuela, Bolívia, Equador e talvez outros países governados por presidentes de esquerda possivelmente se negariam a reconhecer o resultado eleitoral de Honduras.

Mas a Suprema Corte hondurenha - que ordenou a operação militar contra Zelaya em 28 de junho - e a Justiça eleitoral estão trabalhando nos preparativos das eleições num ritmo de normalidade. A Justiça já discute a ordem que os nomes dos candidatos à Presidência aparecerão nas cédulas de votação. Cerca de 20 candidatos tiveram suas candidaturas aprovadas, entre eles um esquerdista tachado de radical, Carlos H. Reyes. Os nomes mais fortes são Elvin Santos (do governista Partido Liberal), ex-vice-presidente de Zelaya, mas que se dissociou dele, e Porfírio Lobo Sosa (Partido Nacional), que perdeu para Zelaya em 2005.

"O reconhecimento internacional do presidente que venha a ser eleito vai depender em grande medida se o atual governo conseguir que observadores internacionais acompanhem o processo e o considerem legítimo", disse outra autoridade brasileira que acompanha a crise em Honduras. Tanto essa autoridade quanto o diplomata falaram ao Valor sob a condição de não terem seus nomes citados.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) exige a recondução de Zelaya ao poder e aprovou uma série de sanções políticas, incluindo a suspensão de Honduras. Mas o governo interino não dá sinais de que vá se dobrar à pressão externa. O estatuto da OEA não prevê a utilização de sanções econômica, que podem, porém, ser adotadas por países da região.

Zelaya foi derrubado após ter desafiado a Suprema Corte e convocado uma consulta sobre uma eventual Assembleia Constituinte - que para a oposição, tinha a intenção instituir a reeleição no país.

No sábado, Zelaya e Micheletti devem se reunir com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, mediador da crise indicado pelos EUA.

Venezuela e Bolívia criticam Washington por sua suposta leniência com os golpistas e já estão acusando o governo americano de envolvimento no golpe.

(Com agências internacionais)