Título: PMDB do Rio queixa-se a Dilma de petistas
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2009, Política, p. A10

A cúpula do PMDB do Rio foi à ministra-chefe da Casa Civil e virtual candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, pedir que ela atue com o objetivo de conter a rebeldia do seu partido no Estado. O argumento peemedebista é de que o comportamento de parte do PT local estaria colocando em risco a formação de um palanque forte no Estado para a própria Dilma em 2010. Hoje, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) está entre os maiores aliados regionais do governo Lula, sendo frequentemente lembrado como possível vice na chama encabeçada pela ministra.

Segundo o Valor apurou, a queixa aconteceu na terça-feira da semana passada, quando a ministra esteve no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, para a assinatura de convênio para repasse de recursos para a área de saneamento. Os principais alvos do PMDB são o prefeito de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), Lindberg Farias, que está em campanha aberta para ser candidato do PT ao governo do Estado, e o deputado estadual Alexandre Molon, que foi o candidato do PT na eleição para prefeito da capital no ano passado, vencida pelo peemedebista Eduardo Paes.

A insistência de Lindberg em levar adiante uma pré-campanha estaria contribuindo para enfraquecer a formação da base de apoio a Dilma que, no entendimento do PMDB, deve ser constituída em torno de um palanque unificado para assegurar a reeleição de Cabral, a principal liderança do partido no Estado.

A ação do ex-líder estudantil estaria abrindo espaço para os adversários potenciais de Cabral na disputa do ano que vem, o deputado Federal Fernando Gabeira (PV-RJ), apoiado pelo PSDB e pelo PPS, e o ex-prefeito do Rio César Maia (DEM), potenciais apoiadores do tucano José Serra.

Já Molon tem incomodado o PMDB, que comanda Estado e capital, com suas posições críticas ao governo do Estado na Assembleia Legislativa (Alerj). Como presidente da Comissão de Cultura da Assembleia da Alerj, Molon tem contestado iniciativas que reduzem a participação do Estado na área, como a transformação de fundações estaduais em organizações sociais de caráter privado e a privatização dos bondinhos que servem ao bairro histórico de Santa Teresa.

O prefeito Lindberg disse que vai prosseguir viajando e levando adiante sua pré-candidatura a governador. "Vejo (a queixa do PMDB a Dilma) como uma grande prova de insegurança por parte do PMDB e do governador", disse. Para ele, o Rio não é decisivo à consolidação da aliança nacional PT-PMDB e nem o governo do Estado tem cacife para pressionar. "Estou convencido que na relação Cabral-Lula, o devedor é Cabral", alfinetou.

Lindberg disse que com a recente ida do ex-governador Anthony Garotinho para o PR, ficou clara sua reaproximação com o governo Lula. Na sua avaliação, com sua própria candidatura, a de Garotinho e a de Cabral, Dilma poderá ter não um, mas três palanques no Estado. Mas lideranças do PT fluminense avaliam que a aspiração de Lindberg é vã e não passará da convenção nacional do partido, marcada para fevereiro de 2010, antes das convenções regionais que definirão candidaturas a governador. Políticos do PMDB e do próprio PT avaliam que Lindberg está apenas forçando sua candidatura ao Senado na dobradinha que os dois partidos devem fechar em 2010. Dessa forma, sairia do páreo a secretária estadual de Ação Social, Benedita da Silva (PT). Pelo PMDB, o nome mais provável é o do presidente da Alerj, Jorge Picciani.

O deputado Molon disse que não é candidato a nenhum cargo majoritário e que, por isso, não vê como ele possa estar atrapalhando a aliança PT-PMDB. "A não ser que tenham pedido à ministra que eu deixe de fiscalizar o governo do Estado e de denunciar suas mazelas", cutucou, acrescentando: "Só quem não conhece Dilma lhe pediria isso".