Título: BNDES deve reduzir linhas com retomada econômica
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2009, Finanças, p. C3

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que a expectativa da instituição é de que a recuperação econômica a partir do segundo semestre reduza a participação do banco de fomento nas linhas especiais de apoio às empresas. De acordo com o executivo, são esperadas recuperações no volume de empréstimos bancários para as companhias e a retomada do mercado de capitais, com o incremento das ofertas públicas inicias de ações (IPOs, na sigla em inglês) e lançamento de debêntures.

"Se isso acontecer, as nossas linhas de giro e outras linhas que são substitutivas e transitórias refluirão automaticamente, porque o nosso orçamento vai se exaurir e nós não vamos renovar. É a nossa expectativa", afirmou Coutinho, que participou do "Seminário de Alto Nível sobre o Papel dos Investimentos Públicos na Promoção do Desenvolvimento Econômico e Social", na sede do banco.

Devido à crise financeira, o BNDES lançou, no fim do ano passado, o Programa Especial de Crédito, com orçamento de R$ 6 bilhões e limite de empréstimo de até R$ 50 milhões por empresa para financiamento de capital de giro, função que, até o agravamento da crise, era cumprida pelos bancos privados. O banco de fomento destinou recursos também para empréstimos-ponte e operações de pré-embarque como forma de atenuar os efeitos da crise. Coutinho não quis confirmar todas as medidas destinadas à área ambiental que serão analisadas hoje em reunião de diretoria. O executivo se limitou a confirmar que a linha de financiamento destinada a apoiar a adoção da reserva legal nos empreendimentos agropecuários estará entre as medidas apreciadas, conforme antecipou o Valor. Caso seja aprovada, o plano do banco é anunciar hoje ou até o final da semana.

De acordo com a reportagem, o banco de fomento criará uma linha, corrigida pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), para que proprietários rurais cumpram a determinação de que uma parte das terras se mantenha coberta por florestas nativas. Conforme a legislação, 80% das áreas rurais na Amazônia devem ser cobertas pela mata nativa, percentagem que cai para 35% no cerrado amazônico e 20% no restante do país. O presidente do BNDES considera que o investimento público é a forma mais eficiente de utilizar a política fiscal como forma de combater os efeitos da crise econômica. "O efeito multiplicador do investimento é mais poderoso para os objetivos a que se propõe", disse.

Coutinho reforçou que o banco de fomento não financia empresas com problemas de gestão ou com incorreções no trato da questão ambiental. Ele admitiu que a instituição destinou recursos para companhias que "a posteriori teriam incorrido em problemas". "Nós teremos que encontrar maneiras de prevenir, remediar ou punir, dependendo do caso", disse.

O executivo frisou que o banco muitas vezes empresta para setores em que há risco, mas a participação da instituição no capital dessas companhias permite "influir de maneira positiva", implantando práticas sustentáveis do ponto de vista ambiental e de gestão. "Em vários setores o BNDES contribuiu para torná-los formais, para estruturar as empresas, para torná-las de capital aberto. Esse papel positivo de indução de práticas socioambientais sustentáveis precisa ser considerado", reiterou.

"Estamos examinando essa e outras iniciativas na reunião de diretoria", confirmou, mas questionado sobre as outras iniciativas que serão analisadas na reunião de diretoria, preferiu não se manifestar.