Título: Os senadores são ótimos pizzaiolos, diz presidente sobre CPI da Petrobras
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2009, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em entrevista concedida após a posse do novo presidente da Embrapa, Pedro Arraes, que não se preocupa com a CPI da Petrobras, pois ela "é interessante apenas para quem gosta de fazer carnaval". Questionado se ela poderia dar em nada como tantas outras investigações anteriores - "acabar em pizza" - Lula foi irônico sobre a disposição dos senadores para investigações. "Eles são ótimos pizzaiolos".

Com este comentário o presidente Lula jogou mais combustível na crise do Senado e provocou uma rebelião no plenário. A revolta refletiu-se imediatamente no painel: a indicação presidencial de Bruno Pagnoccheschi para ser reconduzido a cargo na Agência Nacional de Águas (ANA), que estava em votação, foi rejeitada. Dos 51 presentes, 30 senadores votaram contra. Como os oposicionistas, somados, são 27, o placar mostrou uma reação - silenciosa - de parte dos governistas. Eram necessários pelo menos 41 votos a favor.

A notícia da declaração de Lula foi levada ao plenário pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), durante uma sequência de votações, e provocou imediata reação dos parlamentares. Ficou claro que o voto contra a indicação de Lula para a ANA foi um gesto político, não refletindo qualquer resistência ao nome de Pagnoccheschi.

"Ora, se há algo parecido com forno de pizza não está aqui, mas do outro lado da rua", afirmou Virgílio, ao ler no plenário as declarações do presidente. "Se ele não quiser pizza, é só orientar sua bancada de apoio a permitir a apuração dos fatos e a convocação das pessoas que a oposição vai sugerir. Não é justo nós aqui ficarmos aturando insultos". Cristovam Buarque (PDT-DF) exigiu "uma tomada de posição" de Sarney. "Eu não posso admitir que o presidente da República chame os senadores por um adjetivo desse tipo. Se não nos defendermos, vamos estar dizendo: senhor presidente, além de pizzaiolos, nós somos inócuos, irrelevantes", disse. Para Cristovam, se Sarney não defender a instituição, significará concordância com Lula."Sinceramente, eu já estou ficando cansado de desgaste em cima de desgaste", disse. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) propôs que todos os que se sentiram "ofendidos" assinassem um requerimento em reação. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) disse que Lula "agrediu" o Senado e "abusa das palavras".

Os governistas presentes só se manifestaram para defender a indicação de Pagnoccheschi para a ANA, como Renato Casagrande (PSB-ES) e Romero Jucá (PMSB-RR), líder do governo. Nada foi dito para negar que Lula tivesse feito as declarações.

Na entrevista, o presidente afirmou que a criação da CPI "foi um gesto de irresponsabilidade, pois a empresa já está sendo investigada pela Polícia Federal, Procuradoria-Geral, Ministério Público e Comissão de Valores Mobiliários (CVM)". Lula negou, no entanto, que a multa cobrada pela Receita Federal contra a empresa tenha provocado a queda da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. "Qual o papel da Receita? É fiscalizar se as pessoas estão cumprindo com suas obrigações fiscais, multar quem não cumpre, arrecadar. O que a Petrobras diz é que agiu em conformidade com a lei. A lei permite que a empresa faça isso", completou.

O presidente não quis comentar a saída de Lina, mas acabou confirmando uma crítica que teria feito, no dia da demissão, à forma como o ministro da Fazenda conduziu a troca. Segundo disse ontem, Mantega não poderia ter feito a demissão sem indicar junto o substituto. "Guido sabe que na hora em que tirar alguém tem que ter alguém para colocar no lugar". Fora isso, desdenhou: "Eu não sei por que foi admitida. Eu não sei por que foi demitida. É da responsabilidade do Ministério da Fazenda".

Em relação à crise no Senado, Lula disse que é preciso tomar cuidado para não se fazer pré-julgamentos. Alterando postura anterior, ele admitiu que todos, inclusive o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), devem ser responsabilizados e punidos caso sejam descobertas irregularidades. "É preciso que a gente respeite a seriedade. Há denúncia, há. Tem fundamentos, tem. Apura-se. Apurou-se, toma a atitude que quiser".

O presidente chegou a afirmar que se, essa regra não for cumprida, sobrarão poucas pessoas em seus cargos. Lembrou que o ex-ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, afastou-se do cargo por cautela, mas que, até hoje, ninguém provou que ele tenha recebido um envelope de dinheiro de um dono de empreiteira.