Título: Fernando Sarney é indiciado pela Polícia Federal
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2009, Política, p. A9

O empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi indiciado hoje pela Polícia Federal sob a acusação, entre outros crimes, de formação de quadrilha, tráfico de influência e falsificação de documentos para favorecer empresas privadas em contratos com estatais. O órgão mais visado foi o Ministério de Minas Energia, controlado politicamente por seu pai. Fernando é o principal alvo da Operação Boi Barrica, da PF, criada há três anos inicialmente para apurar saques em dinheiro vivo de pelo menos R$ 3,5 milhões relacionados a empresas da família Sarney nas eleições de 2006.

Fernando foi ouvido ontem pela PF, em São Luís. Procurado pela reportagem, ele e seu advogado não quiseram dar entrevistas. O empresário sempre negou ter cometido qualquer tipo de irregularidade.

O filho de Sarney foi apontado como "o mentor intelectual" de uma quadrilha que praticava tráfico de influência no governo e em estatais para favorecer empresas privadas, de acordo com a PF e o Ministério Público Federal.

Além de tráfico de influência e formação de quadrilha, o filho de Sarney foi indiciado também por crimes contra o sistema financeiro. O Ministério Público vai decidir se oferece ou não denúncia contra Fernando com base no trabalho da PF.

O indiciamento é mais um revés para o presidente do Senado, que enfrenta uma série de acusações de irregularidades dentro e fora da Casa. Na época dos fatos citados pela polícia e pelos procuradores, principalmente entre 2006 e 2007, o ministro de Minas e Energia era Silas Rondeau, apadrinhado político de Sarney. Desde o começo do governo Lula, o presidente do Senado mantém o controle de grande parte das indicações para o setor elétrico.

Rondeau foi afastado do cargo de ministro em maio de 2007, após ter sido investigado em outra operação da PF, a Navalha, mas não foi responsabilizado por nenhum crime.

A Operação Boi Barrica, nome de um grupo folclórico maranhense, começou com uma suspeita de caixa dois na campanha de Roseana ao governo do Maranhão em 2006.

Foram sacados R$ 2 milhões por Fernando nos dias 25 e 26 de outubro (R$ 1 milhão em cada dia). Entre o final de setembro e outubro daquele ano, foram sacados mais de R$ 1 milhão da conta do Sistema Mirante de Comunicação, afiliada da Globo e principal empresa da família Sarney, da qual Fernando é um dos dirigentes. O segundo turno da eleição foi no dia 29 de outubro.

Contudo, no decorrer das investigações, que incluíram grampos realizados com autorização judicial, foram levantados indícios de outros crimes atribuídos ao empresário, sobretudo de tráfico de influência para favorecer empresas privadas em contratos com Eletrobrás, Eletronorte, Valec (estatal do Ministério dos Transportes responsável pela construção da Ferrovia Norte-Sul) e Caixa Econômica Federal.

Rondeau também é apontado na investigação pela PF como integrante ativo do esquema, mas a reportagem não conseguiu confirmar se ele foi ou não indiciado.