Título: Governo prepara-se para enfrentar CPI da Petrobras
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2009, Política, p. A9

A um ano do início da disputa pela sucessão presidencial, governo e oposição preparam suas estratégias para o enfrentamento na CPI da Petrobras prevista para ser instalada hoje, no Senado. O PSDB preparou 40 requerimentos com pedidos de informações sobre a estatal e de convocação de diretores, ex-dirigentes da empresa e até mesmo da ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira, demitida após desgaste com o governo por críticas de técnicos da Receita a procedimento contábil da Petrobras. PMDB, a princípio, atuará com o PT e a base governista usará a maioria que tem na comissão para impedir a aprovação de requerimentos e de determinadas investigações. Ministros e líderes do governo passaram o dia de ontem reunidos para traçar a estratégia para blindar o governo e evitar desgaste ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo que a comissão seja instalada hoje, os trabalhos deverão começar de fato apenas em agosto, depois do recesso parlamentar, que deve começar no fim desta semana. Os parlamentares entrarão em recesso só depois que a Lei de Diretrizes Orçamentárias for votada. "Protelar a instalação da CPI agora é um tiro no pé do governo", considerou Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento. "Só vai fazer com que a CPI se aproxime do período eleitoral".

Hoje os senadores devem escolher o relator e o presidente da comissão, responsáveis pela condução das investigações. PT e PMDB devem ficar com o comando da CPI da Petrobras. A base indicou oito dos onze integrantes da comissão e o PMDB tem o maior controle da investigação, com três senadores - ligados a Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado. PMDB tentará blindar o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AL), envolvido em denúncia de desvio de recursos da Petrobras por meio da Fundação Sarney, da qual é presidente de honra, presidente vitalício e responsável pelas finanças. O PT tentará proteger o governo Lula e a estatal. Os dois partidos indicaram políticos para as diretorias.

PSDB e DEM estão se municiando com informações sobre a Petrobras, como patrocínios e convênios firmados pela estatal com ONGs e prefeituras. Autor do requerimento de criação da CPI, Álvaro Dias, criou em seu gabinete uma espécie de "QG" para investigar a Petrobras e deslocou dois funcionários do Senado para coletar informações da estatal. Os tucanos prepararam 15 requerimentos que serão entregues à Mesa Diretora e outros 25 destinados à CPI. A maioria dos requerimentos é para pedir dados da estatal, mas já foram definidos pela oposição quatro pedidos de depoimentos na comissão de inquérito. PSDB quer chamar a ex-secretária da Receira Federal Lina Maria Vieira, Wilson Santarosa, gerente executivo de comunicação da Petrobras, e dois ex-diretores da Iesa Óleo e Gás, acusados de integrar esquema de fraudes em licitações da Petrobras pela Operação Águas Profundas, da Polícia Federal.

O ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, reforçou ontem, após reunião ministerial na Granja do Torto, a posição do governo em relação à CPI. Disse que existem todos os pré-requisitos legais para que ela seja instalada e que o governo "exercerá na comissão a maioria que possui". Pela correlação de forças, o governo tem oito dos doze senadores que integrarão a Comissão.

Da reunião ministerial, participaram, além dos ministros, os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) e do Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC). Jucá alertou para o cuidado com as eleições de 2010. Segundo ele, dos 45 votos que a base aliada têm no Senado, 37 são de senadores que disputarão um novo mandato ano que vem. "Eles tendem a pensar mais na própria eleição do que na defesa do governo", completou o pemedebista. (CA, colaborou Paulo de Tarso Lyra).