Título: Yeda diz que ataques têm fins eleitorais
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2009, Política, p. A8

A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), vinculou o agravamento da crise política em torno do seu governo nos últimos dias aos "interesses eleitorais" do ministro da Justiça, Tarso Genro, nome mais cotado do PT para a disputa estadual no ano que vem. "Começou antes a campanha eleitoral, que tem ministro gaúcho candidato", afirmou em entrevista à TV Record veiculada ontem. Ela disse ainda que está sendo vítima de uma "tentativa de golpe" e garantiu que pretende concorrer à reeleição em 2010.

Logo depois, em entrevista à rádio Gaúcha, Yeda disse que Genro, na condição de responsável pela Polícia Federal, é uma "pessoa muito presente na mídia" para falar sobre investigações ou indiciamentos de secretários. "Não pode", afirmou. Na semana passada a PF indiciou o secretário da Irrigação, Rogério Porto, e abriu investigação contra o secretário da Habitação, Marco Alba, por supostas tentativas de fraude em licitações que envolvem recursos federais.

Antes disso, o jornal "Zero Hora" havia publicado um depoimento ao Ministério Público Federal no qual o empresário Lair Ferst, que trabalhou na campanha de Yeda ao governo em 2006, acusa a governadora gaúcha de se beneficiar pessoalmente de um esquema de caixa 2 e da cobrança de propina no Departamento de Trânsito do Estado (Detran). A origem do vazamento das informações não foi identificada.

Agora, com os ataques de ontem, Yeda alinhou-se às frequentes declarações do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal, que atribui ao ministro e à Polícia Federal o vazamento de denúncias contra integrantes do governo gaúcho. Em maio o senador Pedro Simon, do PMDB, partido aliado de Yeda, também havia responsabilizado Genro pela divulgação de gravações feitas pela PF, mas no dia seguinte ele retirou a acusação e ontem voltou a dizer que descartava essa possibilidade.

Diante das acusações, o ministro emitiu nota na qual diz que a Polícia Federal tem feito "um trabalho sereno e imparcial, reconhecido nacionalmente, agindo sempre a partir de mandados do Ministério Público e do Poder Judiciário". Conforme o texto, a PF "jamais intervém em polêmicas políticas" e apenas "investiga fatos supostamente delituosos, não pessoas nem partidos". Genro também afirmou que a instituição "continuará a cumprir o seu dever" em todos os Estados, "sem qualquer preocupação com o vínculo ideológico ou partidário dos governantes".

À TV Record, Yeda afirmou estar sendo vítima de um "quase massacre diário" desde a posse. "O que os ramos radicais da oposição estão fazendo é denegrir o Rio Grande, mais do que o meu governo, com denúncias continuadas, repetitivas, sem provas". Ela disse ainda que as suspeitas lançadas em torno da morte de seu ex-assessor, Marcelo Cavalcante, em fevereiro, em Brasília, são uma "covardia", porque ele não pode apresentar sua versão dos fatos.

Yeda lembrou que o Ministério Público Estadual arquivou denúncias sobre supostas irregularidades na compra de sua casa em 2006 e que a própria Polícia Federal já afirmou que não tem qualquer investigação em curso contra ela. Adiantou ainda que pretende se reunir com o novo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, assim que ele tomar posse, para mostrar as provas de sua inocência.

O objetivo da oposição, diz Yeda, é criar um "ambiente" que ofusque os "ganhos" obtidos pelo governo, como o ajuste fiscal, as obras públicas em andamento, o pagamento em dia de fornecedores e os aumentos salariais concedidos ao funcionalismo. Mesmo assim, garantiu que não se intimida com a pressão da oposição, que tenta abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa.

"Se este governo está fazendo tudo o que está fazendo e é reconhecido, não tem porque não dar continuidade ao trabalho", afirmou. "Não tenho que dizer, como eles querem, que não sou candidata à reeleição para me proteger da saraivada de balas que é diária".