Título: Cartografia dos palanques
Autor: Brito, Ricardo; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 30/01/2010, Política, p. 6

Ampla aliança do PT fará com que Lula e Dilma se desdobrem para atender os interesses dos aliados durante a corrida às urnas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passará por uma curiosa situação para tentar eleger a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora nas eleições de outubro. Terá palanques demais para subir juntamente com Dilma. Partidos aliados vão lançar candidatos nos 26 estados e no Distrito Federal e pressionam por uma visita da ministra e do presidente da República para alavancar votos na campanha. Afinal, todos, inclusive Dilma, estão interessados na capacidade de Lula como cabo eleitoral. A dupla deve ter uma missão tranquila em 14 estados, onde os governistas caminham para lançar candidatura única. Mas em outros nove e no DF Dilma e Lula terão que se equilibrar entre dois e até mais palanques.

Santa Catarina é um exemplo típico da chamada colagem no presidente. Na última segunda-feira, a senadora Ideli Salvati (PT) oficializou a candidatura ao governo de Santa Catarina em encontro com partidos da base aliada. Na reunião, Ideli garantiu que, por sua proximidade com o Palácio do Planalto, estava convicta da participação de Lula em sua campanha. E que isso pesaria a seu favor nas eleições ¿ uma estocada indireta à candidatura da deputada Ângela Amin (PP), outra candidata da base aliada. ¿Ainda há a possibilidade de composição com uma candidatura única no estado¿, afirmou o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA), para quem ainda é ¿cedo¿ falar em quais palanques Lula e Dilma farão campanha (veja quadro).

Das 10 unidades da federação onde a base deve lançar dois candidatos, em quatro delas há o risco de existir nomes do PT e do PMDB na disputa. Os peemedebistas esperam que na Bahia, no Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais e no Pará Lula faça campanha para os dois aliados. ¿É possível que tenhamos palanques duplos nesses estados¿, avalia o deputado Eliseu Padilha, cacique do PMDB gaúcho. O partido no Rio Grande do Sul, que deverá lançar o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, está longe de querer Lula e Dilma no palanque. O diretório é defensor da candidatura própria do partido à Presidência da República.

Melindre Outro aliado que o presidente terá de se esforçar para não melindrar é o PSB. Lula esteve em Pernambuco esta semana a fim de pedir ao governador e presidente do partido, Eduardo Campos, que impeça o deputado e ex-ministro Ciro Gomes de se candidatar a presidente. O PT e Lula pressionam para que Ciro concorra ao governo de São Paulo, para onde o parlamentar transferiu o título eleitoral ano passado, e deixe o caminho livre para Dilma se tornar a única candidata da base aliada ao Palácio do Planalto. Os socialistas avisaram que só em março definem o futuro de Ciro. No Mato Grosso e na Paraíba, é possível que PSB e PMDB concorram com candidatos ao governo estadual. Lula e Dilma terão que administrar o palanque e a ciumeira.

O número 9 Número de estados em que Dilma e Lula terão de se equilibrar entre dois ou mais palanques