Título: Petrobras busca recursos para seus fornecedores
Autor: Moura , Paola
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2009, Finanças, p. C2

A Petrobras está rodando o mundo atrás de financiamentos para os seus fornecedores. Com um enorme gargalo pela frente, devido à grande quantidade de equipamentos necessários para a exploração do pré-sal, a estatal montou uma operação financeira para ajudar as empresas prestadoras de serviços a conseguir mais crédito. O objetivo é aumentar a capacidade de atender aos projetos da estatal. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai ajudar. Na terça-feira, a diretoria do banco aprovou a participação nos fundos formatados com a ajuda da Petrobras.

Até 2013, a Petrobras planeja investir US$ 92 bilhões na exploração de petróleo. A empresa precisará de mais de 20 sondas de perfuração e calcula que o número de plataformas para o pré-sal possa chegar a 50. "Não existe crédito suficiente para financiar o plano de produção da Petrobras. As nossas empresas não têm capacidade para se equipar e atender às demandas que serão geradas nos próximos anos", explica o consultor de negócios da Gerência de Captação da Petrobras, Marcílio Miranda. "Além disso, elas também não teriam capacidade de conseguir um crédito tão grande, devido a seu tamanho".

Com isso, a companhia está montando fundos de recebíveis junto com bancos gestores . Para captar cerca de US$ 9 bilhões necessários à expansão desses fornecedores nos próximos quatro anos, segundo Miranda, a empresa está participando de road shows pelo mundo para atrair investidores. O fundo passará a co-gerir a companhia num prazo de cinco a dez anos. O dinheiro não poderá ser usado como capital de giro, somente como investimento em infraestrutura, em tecnologia e em treinamento de pessoal. Mas, como se trata de uma injeção de capital e não de uma operação de crédito, a fornecedora não aumentará seu endividamento o que não agravará seu balanço. Em troca, o fundo entra como sócio, indica um diretor, um gerente de controle e pessoal de contabilidade, administração e governança.

O primeiro negócio já foi montado com o Banco Modal em parceria com a Caixa Econômica Federal. Serão R$ 500 milhões num Fundo de Investimento de Participações (FIP), que será apresentado na próxima semana à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O investimento será direcionado a fornecedores de terra, tais como de refinaria, de carga e de dutos. Em 2010, será montado outro do mesmo valor, para empresas off-shore. E em 2012, será criado um fundo de R$ 1 bilhão para os fornecedores do pré-sal. O Modal já atua na cadeia produtiva da Petrobras desde 2001 e concedeu crédito de curto prazo num total de R$ 7,383 bilhões, no período.

Segundo Marcílio, que participou ontem de Seminário sobre Óleo e Gás promovido pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, outros 14 fundos estão sendo negociados com um volume total de R$ 10 bilhões, um deles será gerido por um banco americano. Alguns deles serão de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC) e outros FIPs. "A Petrobras não fabrica plataformas nem sondas. Se houver uma falha ou um atraso, gera um prejuízo enorme. Precisamos ter essas empresas fortalecidas", explica o consultor, que é um dos responsáveis por estruturar os fundos.

Miranda explica que os estrangeiros estão interessados nos FDICs porque a alíquota de Imposto de Renda é de 15% e só é pago na hora de retirar o rendimento. Para brasileiros é de 20%. Além disso, estes investimentos não pagam outros impostos. A própria Petrobras também já participa dos FDICs, no entanto, com um volume pequeno, de R$ 10 milhões, e oferece crédito apenas para fornecedores pequenos e médios.

Só poderão receber a injeção de capital os fornecedores cadastrados na Petrobras. Hoje são 4.460 empresas. No entanto, haverá uma avaliação.

"Nós visitamos mais de mil empresas e selecionamos cerca de 100 candidatas. No entanto, entre oito e 10 receberão dinheiro", diz o sócio-diretor do Banco Modal, Humberto Tupinambá. "Só vamos investir naquela empresa que tiver condições de ter uma governança e que depois pudermos sair vendendo a participação".

Marcílio Miranda espera que no próximo mês já esteja disponível R$ 1 bilhão e que nos próximos dois meses outros R$ 4 bilhões também sejam ofertados. "Mas para financiar as operações do pré-sal precisaremos de US$ 3 bilhões para os campos de Iara e Guará e até US$ 6 bilhões para as sondas", afirma Miranda.

O BNDES vai escolher um gestor de fundo onde aplicará nas próximas semanas, segundo Eduardo Sá, chefe do Departamento de Investimento de Fundos, do BNDES. Para isso colocará em seu site uma proposta para que os bancos se candidatem. O banco deve investir cerca de R$ 500 milhões inicialmente.