Título: Contratação de temporários é menor este ano
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2009, Brasil, p. A4

A Ofner, que possui 17 lojas no Estado de São Paulo, contratou dez trabalhadores temporários para a loja aberta no Shopping Campos do Jordão Market Plaza, um dos maiores shoppings sazonais do país abertos na temporada de inverno. A empresa opera hoje com 470 funcionários e contrata empregados por prazo determinado em períodos de pico nas vendas - no Natal passado foram arregimentadas 100 pessoas para reforçar a equipe de vendas e, na Páscoa, 80.

O diretor-comercial da Ofner, Laury Roman, diz que nesses períodos de pico as vendas crescem em torno de 10%. Para a loja sazonal de Campos do Jordão, a expectativa era um incremento de 20%, mas o desempenho em junho e julho está 30% maior que no inverno de 2008. O número de temporários contratados, porém, foi o mesmo do ano passado. "Optamos por preparar melhor a equipe e ganhar produtividade. Uma pessoa que atendia dois clientes agora atende três. Quando o mercado vai bem, a empresa expande a rede. Em tempos de crise é preciso tornar a estrutura existente mais produtiva", afirma o diretor-comercial, que prevê para o ano crescimento de 4% a 5% nas vendas.

A decisão gerencial adotada pela Ofner é um exemplo do que as empresas têm feito neste ano. A contratação de temporários para atender a demandas sazonais está menor do que em 2008. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem), foram contratados no Brasil até julho em torno de 94 mil trabalhadores temporários para atender aos picos de demanda de Páscoa, Dia das Mães e férias escolares. O número é 39% inferior ao registrado no ano passado. Para as férias, a Asserttem prevê a criação de 10,5 mil vagas de temporários, com ênfase nos segmentos de lazer, entretenimento, indústria e comércio, número 32% inferior ao do ano passado.

O presidente da Asserttem, Vander Morales, observa que as empresas têm contratado menos temporários ainda em função do cenário macroeconômico mais restrito. "Nos setores que apresentam recuperação a contratação de temporários é mais evidente, como acontece no setor varejista e no setor automotivo. É possível uma melhora mais expressiva nas contratações, mas isso dependerá de quanto a economia será estimulada no segundo semestre com a retomada do crédito", afirma. Ele cita o caso da Volkswagen, que na sexta-feira informou a contratação de 180 trabalhadores temporários para a unidade de São Bernardo do Campo (SP), elevando para 380 o total de vagas abertas neste mês. A empresa também vai efetivar 70 trabalhadores cujos contratos vencem no dia 30. Com isso, as contratações de temporários na unidade somam 530 no semestre.

Um estudo realizado pela Manpower, consultoria de recursos humanos especializada em contratação de temporários, revela que no segundo trimestre, a procura das empresas por temporários cresceu 17% em relação aos três primeiros meses do ano. Um sinal, segundo o diretor-geral da empresa, Augusto Calado Costa, de reaquecimento do mercado. "Houve melhora a partir do segundo trimestre. Mas ainda assim a procura por trabalhadores efetivos está maior do que a procura por temporários", afirma o executivo. "O aumento dessa procura por temporários indica que a economia está voltando a crescer", avalia o executivo.

Costa observa que na primeira fase de recuperação da economia, as empresas procuram melhor a produtividade aproveitando o quadro de funcionários já existente. Se há ampliação da demanda as empresas optam primeiro pela contratação de temporários e só aumenta de modo efetivo o quadro de trabalhadores nos períodos de expansão econômica mais evidente. Ainda segundo Costa, a redução do IPI para automóveis, linha branca e materiais de construção deve estimular a retomada das contratações nesses setores já no segundo semestre deste ano.

O Ministério do Trabalho e Emprego não dispõe de estatísticas sobre a contratação de trabalhadores temporários. Parte dessas contratações está incluída no grupo de contratos por prazo determinados. Pelos dados do ministério, em maio, foram contratados no país 22.583 trabalhadores por prazo determinado, 1,4% a mais que no mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, as contratações por prazo determinado tiveram uma queda de 12,7% em relação ao mesmo intervalo de 2008. A comparação por trimestres móveis, porém, apresentou melhora. No trimestre encerrado em maio, as contratações por prazo chegaram a 66.837, diante de 64.028 no intervalo encerrado em abril. O desempenho é inferior ao saldo de contratações com carteira assinada. Pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados na semana passada, o saldo de postos com carteira assinada criados no primeiro semestre do ano aumentou 0,94%, para 299,5 mil vagas. Em junho, houve crescimento de 0,37%, para 119.495 vagas. Em maio, a expansão havia sido de 0,41%, totalizando 131.557 vagas.