Título: Cabral ataca pré-sal de olho em Garotinho
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2009, Brasil, p. A8

Pouco afeito a reações extremadas, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), declarou guerra contra o aliado governo federal ao tratar da regulamentação dos blocos do pré-sal. Em artigo no jornal "O Globo", Cabral questionou a eventual mudança de regra do pagamento dos royalties e participações especiais dos blocos da área, a quem chamou de "expropriação das riquezas" dos estados e municípios. O Estado do Rio é o maior beneficiário de royalties do país. Dos R$ 7,9 bilhões distribuídos a estados e municípios no ano passado, o Rio ficou com R$ 4,7 bilhões, incluindo os 67 municípios beneficiários no Estado. O governo federal tem mencionado destinar os recursos para um fundo soberano sem a possibilidade de divisão com os demais entes da Federação.

Governador de um Estado fartamente aquinhoado por investimentos federais, a reação de Cabral só se explica por 2010, quando tentará se reeleger, avalia o cientista político da Uerj e do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) Geraldo Tadeu Monteiro. "Ele aposta todas as fichas na parceria com Lula, mas os royalties são uma espécie de consenso no Estado", diz Monteiro. O governo federal tem dado maciço apoio ao Estado, por meio de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de convênios em Segurança, Habitação, Urbanismo e Saúde. Em transferências correntes, o Estado recebeu R$ 4,2 bilhões em 2008, 40% a mais sobre o último ano da administração Rosinha Matheus (2006). Somente neste primeiro quadrimestre, o governo federal transferiu R$ 1,6 bilhão, valor próximo ao recebido pelo Estado em royalties, R$ 2,1 bilhões.

O discurso da defesa dos royalties vem sendo brandido no Rio pela ex-governadora Rosinha Matheus (PMDB), atual prefeita de Campos dos Goytacazes, município campeão de royalties do Brasil. Rosinha é mulher do ex-governador Anthony Garotinho, que deixou recentemente o PMDB para disputar o governo pelo PR e concorrer contra Cabral. "Cabral precisa marcar posição para que depois não seja acusado por Garotinho de omissão", diz Monteiro, para quem o governador está disputando o protagonismo do tema com Rosinha, de olho nas implicações eleitorais no ano que vem.

O ex-governador e e sua mulher têm forte influência no interior do Estado, principalmente nos municípios que mais recebem royalties. Rosinha é presidente da Organização dos Municípios Produtores da Bacia de Campos (Ompetro), que reúne os dez municípios mais ricos em royalties do país. Em suas romarias pelo pré-sal já encontrou-se com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em Brasília, há duas semanas, para pedir que pelo menos 40% dos royalties dos novos blocos do pré-sal fiquem com estados e municípios.

É justamente no interior que Cabral tem mais dificuldades eleitorais. Pesquisas do IBPS mostram claro aumento da intenção de voto em Garotinho na região. Em março, o ex-governador tinha 14% no interior. Em junho, após o anúncio de sua pré-candidatura, passou para 25,7%. Já o atual governador tinha 34% em março e agora tem 36%. Em todo o Estado, a pesquisa mostra Cabral com 35% e Garotinho com 19% das intenções de voto.

Cabral ainda enfrenta resistência por parte dos políticos do interior, como prefeitos e deputados estaduais. Muitos reclamam da redução das transferências aos municípios do interior. Um dos principais programas criados na época dos Garotinho, o Plano de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios (Padem), que destinava dinheiro para obras no interior, foi extinto com a chegada de Cabral ao governo em 2007.

O quadro eleitoral para o governo estadual no Rio está indefinido. O prefeito de Nova Iguaçu (RJ), Lindberg Farias (PT), briga para sair candidato, mesmo contrariando a dobradinha Lula-Cabral no Estado. O PSDB defende a candidatura do deputado federal Fernando Gabeira (PV), em aliança com o DEM. Gabeira ainda não decidiu se disputa o governo ou uma vaga no Senado, assim com o ex-prefeito Cesar Maia (DEM).