Título: Gravações mantêm Sarney sob pressão no Senado
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 23/07/2009, Política, p. A6

Eu não sei o que é ato secreto. Aqui ninguém sabe o que é ato secreto", declarou José Sarney (PMDB-AP) no plenário do Senado no dia 16 de junho. Ontem, pouco mais de um mês depois, a publicação do conteúdo de diálogos gravados com autorização judicial pela Polícia Federal dá indícios de que não só o presidente do Senado sabia da existência dos atos administrativos não publicados como negociou diretamente com o ex-diretor-geral Agaciel Maia nomeações e favores para beneficiar sua família. As acusações de tráfico de influência e de quebra de decoro parlamentar que pesam contra Sarney podem dificultar a permanência dele no cargo caso o Conselho de Ética aceite as denúncias.

Alvo de novas denúncias, Sarney não se pronunciou e durante todo o dia de ontem sua assessoria disse que não conseguiu contato com ele. Hoje o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), deve protocolar no Conselho a quarta denúncia contra o pemedebista. "Se a opinião pública pressionar, Sarney não resiste mais", disse o tucano. "Tráfico de influência é crime e ele quebrou a palavra".

A Polícia Federal interceptou ligações telefônicas de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, durante a Operação Boi Barrica e revelou a prática de nepotismo pela família Sarney no Senado. Em uma das conversas, Fernando Sarney diz à sua filha, Maria Beatriz Sarney, que mandou Agaciel Maia reservar uma vaga para o namorado dela, Henrique Dias Bernardes. O cargo em questão estava vago porque o seu ocupante, irmão de Maria Beatriz, se demitira. A neta do senador conseguiu a nomeação do namorado como assessor parlamentar. Os telefonemas se deram entre 30 de março e 2 de abril de 2008, quando Garibaldi Alves (PMDB-RN) presidia o Senado.

Os diálogos gravados foram publicados ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e geraram protesto de senadores, como Cristovam Buarque (PDT-DF), que sugeriu que o plenário decida se Sarney deve permanecer no cargo.

O pemedebista só sairá do cargo por decisão própria ou do Conselho de Ética. Cabe ao conselho decidir se aceitará as denúncias e a representação contra Sarney e definir sobre o afastamento do cargo até o término das investigações. O conselho é composto majoritariamente por aliados de Sarney e é presidido por Paulo Duque (PMDB-RJ), indicado pelo líder do partido, Renan Calheiros (AL). A pressão dos senadores oposicionistas não será suficiente para fazer com que Sarney deixe o cargo, considerou Arthur Virgílio.